Reflexão (cs). [Do lat. Reflexione, ’ação de voltar para trás, de virar; ’reciprocidade’]s.f.1. Ato ou efeito de refletir (-se). 2. Volta da consciência, do espírito, sobre si mesmo, para examinar o seu próprio conteúdo por meio do entendimento, da razão. (Novo Dicionário da Língua Portuguesa.)
Buscamos conhecimento, aperfeiçoamento, técnicas de desenvolvimento pessoal, profissional e cada um de nós se afeta mais ou menos por tudo isso, cada um muda ou não de atitude, diante do conhecimento que adquire. O conhecimento pode restringir-se à sua aquisição, como pode levar aquele que conhece a voltar-se para si mesmo, proporcionando reflexões que geram mudanças de atitudes duradouras e eficazes.
É bastante interessante perceber como se dá a mudança de atitude.
A atitude é composta por três elementos: o cognitivo, o emocional e o comportamental. Para que haja mudança de atitude é preciso que os três componentes estejam mobilizados, ou seja, o conhecimento adquirido faz sentido, repercute emocionalmente e leva a uma ação modificada.
Muitas vezes, como já foi dito, o conhecimento restringe-se à cognição, isto é, à sua aquisição. É o conhecimento pelo conhecimento! Nesse caso, quando há ação, ela tende mais a voltar-se para a promoção da mudança fora daquele que conhece, do que em si mesmo. Em contrapartida, aquele conhecimento que é elaborado, que é compreendido e que é transformado em processo e que afeta a pessoa como um todo promove mudanças de atitudes que levam ao crescimento e aperfeiçoamento pessoal. Assim, para que haja mudança de atitude, é preciso estar aberto e disposto ao trabalho implícito no processo de conhecer e no ato de refletir. Nesse trabalho de reflexão o aspecto emocional é de fundamental importância, porque é no fogo das emoções que o conhecimento é processado!
Sem dúvida, a reflexão que leva ao entendimento do conhecimento adquirido, é de grande importância para o aperfeiçoamento pessoal, mas é diferente de mudar de atitude ou de transformar-se. Gostaria de demonstrar isso, através de dois exemplos, retirados de casos clínicos:
Antes de iniciar sua análise,* K.I.V. já tinha iniciado sua busca pelo conhecimento filosófico, religioso e científico. Por algum tempo, fala do que conhece. O conhecimento em si o fascina. Ele chega a se emocionar com ele!Mas, aos poucos, vai sendo afetado por todo esse saber que, por sua vez, promove mudanças que o levam a compreender-se melhor e a ter atitudes diante da vida mais positivas e efetivas.
Aquele conhecimento que o inebriava, dando-lhe a sensação de poder, hoje lhe dá, também, a consciência de que não é o dono da verdade. É capaz de reconhecer suas qualidades e potencial, apesar das suas limitações e defeitos. É capaz de “ouvir”!...Recentemente,declarou saber que não é melhor do que os outros...
Mais do que conhecer, trazer para si, para a própria vida o conhecimento adquirido tornou possíveis essas mudanças, favorecendo sua transformação e aperfeiçoamento pessoal. Foi preciso que ele se deixasse afetar pelo conhecimento que adquiriu para modificar-se e mudar de atitude.
De outra maneira, a reflexão, levou *F.L. a “arrancar de dentro de si um insight”, como me conta em um de nossos encontros terapêuticos. O entendimento, através desse refletir-se, faz com tenha uma percepção melhor da maneira como vem trabalhando e, assim traça ações, metas, diante de situações que sabe que mais facilmente o levam a acomodar-se. Sua tendência à acomodação e sua resistência a fazer o que não gosta estavam fazendo com que se sentisse desmotivado no trabalho, incompetente e com a forte impressão de que estava sendo avaliado negativamente pelos seus pares e subordinados. O desconforto com tudo isso é grande. Essa reflexão ajuda-o a ser sujeito das mudanças que deseja e elas o levam a sentir-se envolvido com aquilo que faz. Com o tempo, acredita que poderá usufruir de maior descontração e espontaneidade tanto no ambiente profissional como em outros.
Sem a entrega daquele que busca conhecimento, treinamento e/ou aperfeiçoamento, dificilmente há processo. E todo processo, neste sentido em especial, implica em persistência e, por que não, em coragem para refletir-se. Como em tudo que se aprende, cada um tem seu tempo de resposta, cada um tem seu ritmo de trabalho e nem todos processam os conhecimentos que adquirem da mesma maneira. As reflexões que são feitas, particularmente através da ajuda especializada, capacitam-nos em todos os setores da vida e nos ajudam a “virar para trás”, a nos voltarmos para nós e para os outros.
*Os nomes utilizados nesse texto são todos fictícios, preservando-se assim a identidade das pessoas atendidas em psicoterapia.
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