segunda-feira, 15 de junho de 2020

As exigências da pandemia

Há muitas implicações sobre o comportamento humano, diante de circunstâncias como as que vivenciamos no momento: a ameaça real à vida , por conta do alto risco de contaminação pelo vírus Covid -19.

Diante de tal ameaça fomos isolados ( à medida do possível ), passando a conviver dentro de espaços que perderam quase todos os seus limites. Casais, pais e filhos dividem o espaço que ocupavam juntos algumas horas do dia, agora em tempo integral,tendo somadas a isso as tarefas de casa, o home office, atividades escolares e recreativas. A escola conta, ainda mais, com pais que, até pouco tempo atrás, contavam com ela para a  educação de seus filhos. 

As privações decorrentes das medidas tomadas e a sobrecarga desse convívio imposto não poderiam resultar, na grande maioria dos casos, senão em comportamentos como irritabilidade, alta suscetibilidade, perda fácil de autocontrole - além do alto nível de ansiedade, e outros sintomas mais sérios e desestruturantes.

Fomos bombardeados pela mídia com sugestões para ocupar o tempo (já tão ocupado pelo extraordinário da situação), além das muitas informações sobre o próprio vírus. E, como não poderia ser diferente, fomos nos adaptando. Estamos nos adaptando. Podemos até encontrar os que vem se reinventando, criando novas formas de estar e se relacionar.

Contudo, não deixo de considerar a imensa dificuldade que isso possa ser para os pais de hoje, que já não foram educados para o sacrifício, para  renúncias; enfim, para tolerância à frustração e com pouca noção de limites.
Para os pais que são filhos de pais que viveram muita repressão tampouco suportariam ver seus filhos, as novas majestades, serem a ela submetidos.

Considero, igualmente, a dificuldade que possam ter por conta da falta de limites entre o mundo dos adultos e o das crianças - propiciada pelas mudanças no estilo de vida e até de moradia (casa, para apartamentos). Mas, principalmente, por conta da pouca importância dada à autoridade dos pais - que passaram a atender as demandas dos filhos como súditos ou como seus amiguinhos - de igual para igual. Pais que não aprenderam a ser o adulto da relação e na relação com seus filhos - suas escolhas - estão se vendo diante dessa realidade imposta, como aquele que terá que se frustar, renunciar ao seu tempo, aos seus desejos, para tornar possível a nova rotina, dentro e fora de casa.

Animadora me parece a possibilidade de um espaço intra subjetivo, um oásis, um paraíso que é criado, exatamente quando há resistência à frustração, renúncia e sacrifícios em favor do outro que amamos,e por quem somos responsáveis. Paradoxo, também, explicado pelo amadurecimento da empatia e da capacidade de amar.