sábado, 20 de agosto de 2016

NÓS

Muitas ideias a respeito do amor e dos relacionamentos forjam contornos mais fortes do esboço desse nós que está no devir.

Como estar nos relacionamentos sem projetar no outro a nossa falta? Falta que nos define como seres humanos. Falta da qual nos defendemos com arrogância, poder sobre o outro, muitas vezes exigido além do que lhe é devido. Mulheres que ainda buscam seus príncipes encantados em homens que vêm vivendo cada vez mais sua afetividade, fragilidade junto a elas, que tanto quiseram um homem mais sensível, mas que ainda tem que ser aquele que prove, é forte e sempre potente.

Potência que hoje parece estar cada vez mais no encontro consigo mesmo: mulheres e homens. Mulheres que não aceitam seu Feminino por não quererem ser vistas como aquelas que eram desvalorizadas e submetidas. Que se traiam, para manterem-se fiéis aos valores patriarcais.
Homens que têm muito que descobrir sobre esse Feminino que vislumbram para que possam, também, lidar com suas incompetências e, até mesmo, com suas competências.

Esse nós que está em devir sente desejo, atração e é flechado por Eros, que não quer saber como vamos nos virar dentro dos relacionamentos que, hoje, estão cheios de ambivalências, que requerem labor sob nova ética.

Ética onde cada um é responsável por se conhecer e se conter.

Autoconhecimento que torna possível a retirada de projeções das próprias faltas sobre o outro que terá a mesma tarefa, a fim desse NÓS, finalmente, tornar-se mais humano.

A beleza dessas mudanças, ainda que conturbadas e sofridas, está nesse vir a ser de um Homem (mulher e homem) mais humano. Capaz de se entender com suas faltas, com aspectos sombrios da sua personalidade, dos seus sentimentos e, por isso mesmo, mais capaz de empatia,  de sacrifícios em prol não só da sua felicidade como também da do outro mais próximo e daqueles que com ele formam a família humana.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Suporte para suportar

Gerações atrás observaram na disciplina, no bom comportamento ( em casa, na escola, entre parentes, amigos e outros ) o controle da vontade - a força de vontade -  guiada em grande parte por valores e princípios responsavelmente transmitidos.

Em geral, havia consenso quanto ao que transmitir e esperar das pessoas em seus vários ambientes. Essa etiqueta, essa pequena ética do comportamento contribuía para o desenvolvimento de importantes pilares do crescimento pessoal, social e profissional. Boa educação, naquela época, levava em conta a aquisição dessa etiqueta.

Freud chamou de supereu (superego) a instância que exerce o poder de decidir, a autoridade introjetada que forma parte da consciência moral dos indivíduos e dita maneiras adequadas de se comportar.

À medida que avançamos no tempo esse supereu sofre mudanças e, como um elástico esticado várias vezes, ganha flacidez. Com ele mais frouxo a vontade cede cada vez mais aos caprichos, aos desejos e ao imperativo da busca do prazer.

Sentir prazer passa a ser a regra! Prazer não combina com etiqueta,  frustração, esforço e muito menos com sacrifício. Afinal, merecemos ter e fazer o que queremos.

A tarefa de educar, mais do que nunca, é terceirizada. A configuração familiar tem na criança e nas vontades seu centro. Assim como o supereu não é mais ouvido, a autoridade dos pais e de outros adultos não é mais reconhecida. Muitas vezes perdidos quanto ao seu papel de educadores tem dificuldades de definir, colocar e manter limites.

Nesse cenário a questão é: temos continente para suportar pulsões, sentimentos como raiva, inveja, ciúme, as frustrações e, até mesmo a sexualidade? Há consciência moral que faça perceber que há um outro além de si mesmo? Que faça de cada um responsável por si e pelo que é comum a todos?

A rigidez daquele supereu , assim como a flacidez dos limites de hoje em dia , são dois polos antagônicos que precisam ser considerados por todos para que se volte a acreditar  na possibilidade de levar a bom termo a própria vida e a convivência com o outro, num espaço que é de todos. Que, enfim, é possível ter em si suporte para suportar.