quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Eros e Logos. Feminino e Masculino: princípios que regem mulheres e homens.

Acredita-se que o Patriarcado tenha sua origem na divisão de tarefas já nos tempos primitivos. As tarefas ligadas à maternidade limitavam as mulheres que, além disso, não tinham a mesma capacidade física dos homens para fugirem dos predadores e caçarem suas presas.

Patriarcado... A regra do Pai... Poder exercido por homens adultos justificado, desde então, pelas diferenças entre a natureza feminina e masculina, em circunstâncias de vida que mudaram muito ao longo do tempo. 

Nascemos nessa estrutura entendendo como "assim que é"; portanto, atribuindo ao homem maior poder e à mulher um status de menor importância na estrutura social. Com as mudanças que promovemos como sociedade (com a importante participação da mulher) chegamos aos conceitos de Feminino e Masculino bastante contaminados pelos muitos modos de aculturação das sociedades - tanto ocidentais, como orientais.

O princípio Masculino associado ao Logos, às regras, aos limites, ao objetivo, ao assertivo, à força de ação e realização etc., desenvolve-se naturalmente nos homens e, de per si, é valorizado.
O princípio Feminino - tanto nas mulheres, como nos homens - é constituído dentro do sistema patriarcal. Em decorrência disso é subestimado em suas características, por todos. 
Gerar e nutrir a vida, basicamente, constitui a importante função do Feminino. Enquanto princípio, ele nutri não só a vida, como também, está presente no autocuidado, no cuidado com e do outro, da vida emocional e psicológica. Está presente até no cuidado das tarefas do dia a dia - que requerem paciência e entrega.
Entregar-se, expor fragilidades, vulnerabilidades são características desse princípio cada vez mais reprimidas e desvalorizadas- principalmente, pelos homens; mas, também, pelas mulheres.

A desvalorização e a supressão de muitos aspectos do princípio Feminino trouxeram para os generos dificuldades, transtornos quase como um convite para redenção desse feminino.

Fomos constituídos como indivíduos, dentro de um patriarcado estrutural. As atuais circunstâncias de vida são outras e exigem da mulher atividades, atitudes e desempenho que favorecem muito sua identificação com aspectos do princípio masculino. As "filhas do Pai" estão cada vez mais parecidas com o que traduz o comportamento masculino.

Identificar-se com o Masculino é diferente de se deixar guiar por ele. À mulher cabem tarefas que lhe ajudem a compreender a melhor maneira de lidar com a contraparte masculina da sua psique. Discernir, separar, ter foco, encontrar o modo mais eficiente de usar sua agressividade, distanciar-se para obter do todo a parte que, de fato, fará diferença na resolução dos problemas - são algumas dessas tarefas.

Como estamos mergulhados nesse mundo regido pelo Masculino, e tendo parte da nossa psique por ele constituída enfrentaremos dificuldades, sem dúvida, para fortalecer o feminino natural em nós. Entretanto, ainda me parecem desafios "menores" do que aqueles que as mulheres muito identificadas com o masculino terão. Especialmente, do que aqueles que os homens enfrentarão caso queiram sair da unilateralidade que os atrofia, e limita sua capacidade na relação consigo e com os outros.

A mulher será forte, equilibrada se tiver sua contraparte masculina ( Animus), suficientemente desenvolvida, madura, capaz de orientá-la  na execução das funções que necessita para viver plena, realizada e saudável.

O homem igualmente saudável, equilibrado será aquele que conta com sua contraparte feminina  (Anima), para orientá-lo. Deixar o egocentrismo que o ser homem lhe rendeu até aqui, para estar na vida inteiro - pode vir a ser a grande tarefa dos homens. Seus esforços, deste ponto de vista, serão grandiosos. Afinal, aparentemente, não há motivos para que sejam feitos: são homens num mundo regido por eles e para eles. O convite para essa jornada será feito, certamente, pela sua Anima, através do sentimento de infelicidade, vazio que os abaterá em algum momento - apesar dos pesares. Afinal, as circunstâncias de vida atuais não podem deixar de ser consideradas.
Diante desse cenário, temos unilateralidade em ambos. Encontraremos aspectos do Feminino tanto na sombra de homens como na de mulheres e em quaisquer formas de identificação com o Masculino e com o Feminino.

As tarefas são muitas e requerem determinação, disciplina e disponibilidade. Tornar-se consciente de si e do que está à volta requer vontade e abertura para aprender e para se reeducar. As mudanças podem ser facilitadas se considerarmos que todos precisamos delas, em maior ou menor grau.