quarta-feira, 28 de outubro de 2020

"Narcisos" e "Ecos"

 

Ah, se Narciso pudesse entender que a imagem por quem se apaixonou era a da própria alma! Quem sabe assim, tivesse evitado a fama de ser apaixonado pela sua aparência! Quem sabe, tivesse chegado ao século 21 com um ego menos inflado, menos crente em um eu grandioso exibicionista que, como tal, tem-se em alta conta, mas vive buscando ser refletido pelo olhar de admiradores e/ou seguidores!

Quanto esforço precisa ser feito para manter esse poder? Quanto precisa se desdobrar para manter o que infla o ego, para que cada vez mais possa se exibir e, admirado, compensar sua  baixa autoestima?

Ah, se Narciso pudesse entender que havia um Si-mesmo a conhecer... Quem sabe, descobrisse a fonte de satisfação que não só o levaria ao amor próprio genuíno, como à relação, de fato, com o outro – que, por sua vez deixaria de ser usado e descartado à medida de seus interesses... Afinal, vimos que o papel do outro na vida do narcisista é de mero reflexo de sua grandiosidade! É de alguém, portanto, que não precisa ser visto, ouvido, considerado. É alguém que está ali só para confirmá-lo, agradá-lo e, ainda, se dar por satisfeito por ter sido eleito por ele, para estar em sua companhia!

Nesse lugar, quase sempre, encontramos Eco que chegou até aqui, acreditando que em algum momento fosse ser vista e reconhecida por dar o seu melhor, renunciando a si (necessidades, desejos, projetos, amigos etc.) em favor dele (a) narcisista.

Que parceria encontramos aqui?

“Narcisos” perdidos nos reflexos da sua imagem. “Ecos”, tendo olhos só para o outro, perdida de si mesma, aceitando viver de migalhas e, repetindo só o que Narciso quer ouvir! Ambos, no desiquilíbrio de si mesmos, constroem uma relação de co-dependência. Tanto um como outro, egoísta e generoso, alimentam de vaidade o próprio ego: narcisistas pela grandiosidade do seu eu e “Ecos” pela grandiosidade dos gestos de generosidade em favor deles.

 

O equilíbrio deve vir do eixo ego-Si-mesmo. Quando o ego está inflado descompensa a gangorra em que na outra extremidade está a alma (Self, Si-mesmo junguianos). A compensação ou complementação de cada um, não está no outro. Narcisistas têm que buscar o encontro consigo, através do processo de autoconhecimento. Nele está o que buscam fora de si; assim, como as(os) "Ecos" têm que doar para si o que tão facilmente ofertam ao outro.

O autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal à luz da alma, cuja vocação é a autorrealização são condições sine qua non, para relações maduras e equilibradas – tanto consigo mesmo, como com o outro.