sábado, 15 de maio de 2010

Ser quem voce é - é suficiente para voce?

Recentemente, ao escutar o relato de uma pessoa, a respeito de algumas situações que lhe provocam sofrimento, observando a maneira como o fazia, as palavras que usava, as expressões do rosto, sua postura..., pareceu-me haver naquela pessoa um senso de insuficiência que me chamou bastante a atenção.
Entre outras queixas,relatou sobre o efeito que a psicoterapia lhe proporcionava. Com ela, sentia-se mais segura, sem tantas dificuldades para enfrentar seus problemas. Mas, esse efeito ao longo do tempo, perdia-se e, depois de algum tempo, voltava a se sentir perdido, confuso, inseguro. (Havia passado por psicoterapia em outros momentos de sua vida, com diferentes profissionais.) Não aceitava precisar do psicoterapeuta, como de outras pessoas para confirmar suas impressões ou para ajudá-lo a tomar decisões importantes.Mas, ali estava ele de novo ...

Essas informações fizeram com que me ocorresse a imagem do olhar entre a mãe e seu bebe... A alegria que a criança exibe quando sente, através desse olhar, o prazer da mãe em te-la em seu colo e do seu próprio prazer em estar com ela, parece traduzir a necessidade que temos de sermos refletidos pelo outro, de nele confiar e de por ele sermos contidos.
O sentimento de conforto que a criança vivencia ao sentir-se segura e compreendida em suas necessidades, ao ser aceita simplesmente pelo que é; e, o bem estar que a atenção genuína de alguém para aquele que somos, são sentimentos importantes para a formação da auto-estima e da segurança pessoal.
Aprendemos muito sobre nós, quando contamos com a atitude que transmite segurança, aceitação, respeito pelo ser único que, aos poucos, diferencia-se e afirma-se como tal, tanto no início de nossas vidas, como nas primeiras etapas da psicoterapia. A confiança básica em si, no outro e na vida, desenvolvida através dessa atitude e das vivencias que proporciona, contribui para que o sentimento de si mesmo consolide-se como fonte de segurança e inspiração. Diferenciação, individuação, auto-realização e, em certa medida, auto-suficiência são objetivos da educação saudável e de aprendizagens bem sucedidas.

As diferenças individuais são relevantes, também, nesse contexto:

Uns precisarão mais desse reflexo do que outros; assim como, alguns precisam conferir mais vezes sua imagem refletida nos espelhos.
Uns vivem bem, sem espelhos; outros, não vivem sem espelhos!
E entre aqueles e esses, estão os que recorrem ao espelho, quando necessário. A maior parte do tempo estão seguros de si, estão satisfeitos com sua aparência, com seu modo de ser e de viver a vida. Esses conseguiram, fundamentalmente, através do que lhes foi refletido, um continente para que pudessem ser quem são e, com isso, desenvolver o sentimento de suficiência e auto-estima.
As falhas nesse vínculo, originariamente entre mãe e filho, levam a pessoa a buscar no outro - como naquele conto de fadas em que a rainha perguntava sempre ao seu espelho se havia alguém mais bonita do que ela - a sua referencia, o seu continente e a confirmação de seu valor pessoal. Não raro, as pessoas se sentem com uma essência má, num mundo ruim e sem direito a uma existência plena e, pior, sentem-se elas mesmas culpadas disso. Nos assim chamados distúrbios narcisistas, encontramos o sentimento de insuficiência aliado aos problemas de auto-estima e às diversas formas de fobia. Também, não são raros os distúrbios psicossomáticos.
Sentir-se percebido e respeitado; vivenciar o interesse genuíno de outra pessoa que possa encorajar a expressão dos mais variados sentimentos, para que se possa descobrir quem se é verdadeiramente (num mundo rico de possibilidades, onde é possível confiar nas pessoas e na vida ) – favorece não só uma auto-estima elevada, mas, o sentimento de auto-suficiência que, neste sentido, é de suma importância para a realização daquele que cada um é.