O desejo que tudo permaneça naquele lugar, daquele nosso jeito alimenta a ilusão que temos de que haja esse lugar de permanência.
A não aceitação da realidade, ou seja, de que estamos em constante mudança, de que vida é trajetória, é movimento cada vez mais aumenta a intolerância , o sofrimento do ser humano que anseia chegar logo a um determinado lugar para, finalmente, ter a vida que sonhou.
O desejo é impulso para, não tem forma acabada, não cessa de desejar. Portanto, querer que a realidade corresponda àquilo a que cada um idealizou ou ao que o coletivo entendeu que era o melhor padrão para se viver é sofrer e fazer sofrer. Não há um estado constante de felicidade, não há juventude eterna, não há o trabalho perfeito, nem o homem, nem a mulher, o casamento, a família. Não há o que ou quem, finalmente, seja e esteja no lugar que queremos que esteja e lá fique!
Pete Docter, diretor do filme de animação Divertida Mente, ilustra de forma simples e divertida as configurações que os sentimentos formam à medida que as mudanças ocorrem em nossas vidas. Riley, a menina protagonista, muda de cidade, de casa, de escola e está entrando em outra fase do seu desenvolvimento. As coisas não saem como planejadas e o tudo que parecia, perfeitamente, em seus lugares não está mais. E, ainda, ficará "pior"!
A vida em departamentos estanques ou, em ilhas como Riley organizou a dela, faz parte da ilusão que tudo permanecerá como é e sempre foi.
Os desarranjos provocados internamente, a maneira como um sentimento tenta assumir o controle sobre os outros, principalmente sobre a tristeza, para que tudo permaneça como era é uma oportunidade para refletir sobre a importância da atenção para as sutilezas dos sentimentos na composição das atitudes mais apropriadas para cada situação nova das nossas vidas.
As imagens e a história contada nessa animação mostram, divertidamente, como as perdas, o desapego e a tristeza decorrente -tanto quanto o medo, a raiva e alegria - contribuem para o amadurecimento ao lidar com a impermanência na vida.