segunda-feira, 7 de outubro de 2019


Perdemos todos nós, especialmente, quando uma criança, um adolescente tira sua vida. Perdas irreparáveis que não podem cair na "normalidade estatística". O vazio existencial, a desesperança, o não valer a pena viver - o desamparo - a que estamos cada vez mais expostos, precisam nos fazer pensar nos comportamentos de todos diante da vida.

Quais as competências para a vida estamos desenvolvendo em casa e nas escolas?
Que experiencias sociais estamos propiciando às crianças, aos jovens?
Como estamos desenvolvendo a linguagem dos sentimentos? Como estamos formando resiliência se "não podemos" mais frustrar? Qual a qualidade da nossa atenção, da presença, da entrega para nossos filhos? Com quem podem contar, quando diante de dificuldades ? 

Qual conceito de amor, de empatia, compaixão, sacrifício estamos vivendo, portanto desenvolvendo, e deixando como referência para os filhos do futuro? Ou a urgência ditada pelo narcisismo que caracteriza a sociedade contemporânea vai ser o nosso legado para as gerações seguintes?

A vida está entregue às demandas do dia a dia como urgências, cujo centro são as necessidades de adultos infantilizados que buscam, na sua grande maioria, a satisfação das suas próprias necessidades e desejos.
A responsabilidade das nossas escolhas pessoais e como sociedade precisa ser repensada.Afinal, a vida de qualquer ser precisa de múltiplas ações, para que não sucumba à própria sorte.





sábado, 27 de abril de 2019

Sua culpa ou minha responsabilidade?

Escolhas feitas em algum momento da vida podem gerar ressentimentos futuros. E eles, por sua vez, podem desencadear depressão. Muito desse adoecimento depende de como nos posicionamos diante da vida.

Nem todas as escolhas feitas farão sentido ao longo do tempo. Variáveis que foram levadas em consideração num dado momento não estarão presentes em outro. Entretanto, ressentir-se e responsabilizar algo fora de si, ou alguém por uma tomada de decisão em nada contribui para sair desse estado de acusação, culpabilização e, principalmente, de passividade diante das próprias escolhas e seus desdobramentos.

Sentir-se derrotado diante das escolhas feitas e não se reconhecer responsável por elas, leva o sujeito a se ver como vítima, "sobretudo como vítima inocente de um vencedor que, nesses termos, passa a ocupar o lugar de culpado. É no lugar da vítima que se instala o ressentido, cujas queixas e acusações dirigidas silenciosamente a um outro funcionam para assegurar sua inocência e manter sua passividade" (Maria Rita Khel). Acrescente-se a isso a vaidade por sentir-se melhor do que os outros,quando por eles foi capaz de abrir mão de seus desejos, de seus projetos etc...

Vítima, diante desse Outro mantém-se , sem assumir responsabilidade por si mesmo, pelos seus desejos. Para Khel, as "manifestações de ressentimento referem-se a um prejuízo pelo qual o sujeito foi co-responsável - no mínimo por ter cedido a um outro, sem lutar, sobre algo que dizia respeito a seu desejo".

O ressentimento leva à cobrança indireta (ou direta, dependendo da severidade dele) daquilo que foi dado ao outro por submissão ou por generosidade (vide texto anterior sobre egoísmo e generosidade). Entretanto, o sujeito não se arrepende disso -  ele acusa o outro por isso. "Ele não luta para recuperar aquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez"(idem). 

Muitas vezes, o ressentimento fecha a pessoa num círculo vicioso, em que só a vingança pode aplacar um pouco desse sofrimento. Vingança vista por Freud como "covardia moral". Nela, a pessoa renuncia a um desejo em nome da submissão desde ao superego até a um outro, de fato; mas, depois cobra insistentemente, pelo que se negou. O prazer da vingança é vivido na repetição, na insistência da acusação e não em sua efetivação.

A saída possível para o ressentido está na responsabilidade por  escolhas que acabaram em sofrimento, sem culpar ou acusar alguém por isso. Ela está, também, na humildade - virtude que faz com que não se queira ser superior, melhor que outros. E na justiça, através da qual, afirma-se os próprios desejos, bem como os do outro.

Todas essas saídas levam à renúncia da passividade, diante da sua própria vida. Requerem, potência de vontade. Em última instância, implicam no desejo de sair desse sofrimento. Sair dele por si e para si.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Egoísta Generoso e a Vaidade

Atribui-se ao generoso valor maior que ao egoísta que, sem dúvida, não conseguiu sair do lugar de onde vê suas necessidades, seus interesses, razões e sentimentos como prioritários em relação aos demais. O egoísta não ultrapassa a fase do desenvolvimento em que o ego, o seu ego, é o centro do mundo. No seu egocentrismo, não consegue se colocar no lugar do outro. Causa-lhe vaidade a satisfação desse ego sobre os demais!
Costuma atrair admiração tanto de egoístas, como dos generosos. Com esses, a parceria é mais frequente e duradoura. Mantida, apesar das insatisfações geradas ao longo do tempo, pela generosidade.

O generoso está para o egoísta, assim como o egoísta não está cada vez mais para o generoso!

O que mantém esse par? Qual o eixo dessa relação?
Ambos, são mantidos pelo desiquilíbrio de cada um! Giram em torno do que os envaidece. Sim, a vaidade é o sentimento comum aos dois grupos de pessoas. É o ganho secundário que reforça a atitude de sacrifício pelo outro, mantendo-o cada vez mais em seu egoísmo!
Há de se reavaliar, portanto, a atitude de ambos para que haja uma relação onde sejam capazes de atender aos seus interesses, sem deixar de se colocarem no lugar do outro. Enquanto, o generoso continuar abrindo mão de suas necessidades, desejos, interesses etc em prol dos desejos do egoísta, cada vez mais exigente - mais injustiça ele comete!
A relação saudável entre as pessoas pede que cada um saiba dar para si e para o outro. "Amai ao próximo, como a si mesmo".
Se não sei do que preciso, do que gosto ou, sabendo, abro mão, esvaziando-me de mim mesma (o), deixando de me cuidar, de buscar satisfação para minhas necessidades, para me preencher da vida do outro, dificilmente, essa relação não adoece - dificilmente, ambos não adoecem. Portanto, é preciso reavaliar a atitude generosa, especialmente - uma vez que, atrás de um grande egoísta, quase sempre existe um generoso. Trocar a vaidade pela justiça passa a ser tarefa de ambos: generosos e egoístas.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Conflitos no mundo moderno e na contemporeneidade

A neurose no mundo moderno constituía-se do conflito entre o desejo e o proibido. Na contemporaneidade, o conflito está entre o possível e o impossível. Aqui, a culpa é substituída pelo medo; afinal, sem repressão, temos que lidar com nossa potência. 
Antes, a culpa era da autoridade que exercia a lei; portanto, estava fora do indivíduo - podia-se culpar alguém. Agora, a culpa é nossa por não fazermos, atingirmos ou sermos quem desejamos. 
O sentimento de desamparo nessa nova ordem social não é pequeno e dele decorrem, muitas vezes, a ansiedade e a depressão - doenças do século, como no anterior foi a histeria.