sábado, 20 de novembro de 2010

Bem querer

O bem querer é assim: pode passar muito, muito tempo entre um encontro e outro que vivemos o reencontro como se tivéssemos acabado de nos despedir!
O bem querer traz calma, renova as energias e aumenta a pulsão de vida. Renova, rejuvenesce. Faz a gente querer e acreditar em novas possibilidades.
No bem querer, quando há encontro, a solidão deixa de existir e é mesmo como colorir a vida de alegria!
A amizade é vínculo que consolida, consola e ampara.É vínculo forte que nos amarra,sem nos prender.Faz a gente ficar com gosto de quero mais - mas, alimenta! E é com ele,também, que se segue vivendo... Até o próximo encontro...
Até breve!
Feliz Natal!Feliz Ano Novo a todos os amigos!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Fazer pelo querer

Refletir sobre as atitudes que norteiam nosso comportamento pode levar à identificação de pensamentos, sentimentos, percepções, padrões, crenças e/ou valores que influenciam as escolhas que fazemos durante a vida e que podem determinar o destino que a ela se dá.

Parar para pensar,organizar e direcionar ações no dia-a-dia tem sido um desafio contínuo para quem se propõe a desenvolver uma atitude mental positiva e quer atingir equilíbrio pessoal, realização profissional, qualidade de vida, status,etc.

Parece simples demais. Óbvio demais! - Mas, quanto tempo do dia é dedicado a esse exame? Quanto tempo é investido no pensar antes de agir?

Agir, muitas vezes, é o objetivo! Agir por agir! O fazer é cultuado, é prestigiado, mesmo que não signifique nada. Ouve-se, cada vez com mais frequencia, a troca que é feita entre as pessoas sobre os seus fazeres, enaltecendo sua falta de tempo! Ve-se pessoas cada vez mais conectadas, seguindo umas as outras...!

Como as pessoas se vem e são vistas nesse fazer? Que necessidade é essa? A que serve esse agir?

Olhar para si, para o outro e para o que, realmente, importa ou faz diferença para cada um, parece natural, parece simples e, talvez, porisso mesmo, dedique-se pouco tempo a essa investigação e à reflexão das atitudes que se tem diante da vida.

Levamos a vida para onde queremos, quando refletimos sobre ela, quando traçamos objetivos a curto, médio e/ou a longo prazo;enfim, quando vislumbramos onde queremos estar ou como queremos viver aqui e agora ou no futuro.

Perguntar ajuda a iniciar uma reflexão, então:
- Há coerência entre o seu fazer e o que quer viver?
Voce está indo por onde lhe parece fácil,confortável hoje,mas,desejando viver uma realidade um pouco a frente que exige mais,muito mais para ser atingida?

Enfim, que ações, hoje, levam voce a acreditar que está indo na direção daquilo que quer para sua vida?

A QUE SERVE O SEU FAZER?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ELA - A Anima

Ela - aquela que encanta, seduz, ilude. Ela que se confunde com outras mulheres e que nelas é procurada. 
Ela quem aconselha! Não ouví-la tem preço alto: mau humor, caprichos, exageros, exigências, insatisfação, instabilidade e prolapsos.

Ah...os caprichos e prolapsos da anima!!!

Ela é a mulher ideal - a contraparte feminina da personalidade masculina.
Precisa ser reconhecida assim. A partir daí, o homem é seu amo e senhor - a quem serve com alegria!
É ela quem faz a ponte entre ele e o seu mundo interior.
Ela e só ela pode corresponder ao seu ideal de mulher - por que ele e ela são um só.

Não é mais a sereia que, com seu canto e encantos, toma-o para si.
Nem é a deusa (da beleza, sensualidade, inteligencia,...) que o escraviza na realização de seus desejos, num fazer por ela sem fim.

Tê-la como cúmplice e parceira perfeita é poder ir ao encontro do seu eu mais verdadeiro e profundo. É transformar suas relações e tornar-se sábio.
É poder ser parceiro e cúmplice da mulher real - vista e respeitada como tal. Aquela a quem, finalmente, pode entregar-se.

domingo, 27 de junho de 2010

Pensando no outro

Ah... O outro...
Esse mistério, muitas vezes impenetrável, sagrado, a quem, simplesmente, “tiramos” por nós mesmos e, sem parcimônia, ditamos o que dele esperamos...
Pai, mãe, filho, filha, irmão, irmã.Amigo, amiga – esse parece ser o outro melhor aceito como é!
Parceiro, parceira, marido, mulher – o outro mais próximo e o que mais se perde de vista!Ve-lo como é, parece um risco.

E, sem o outro, que parceria é possível?

Identificações, projeções. Identidades confundidas ou fundidas no anseio do par perfeito!
Eu perdido (a) no outro! O espelho a quem não vejo, senão como reflexo de mim mesma (o)!
Ouví-lo? Só quando diz o que se quer ouvir! Senão, que se cale para não trazer desprazer, culpa e/ou consciência – para não refletir um eu que não se quer ser.

Ah... O outro... Com quem se pode passar grande parte da vida a sonhar, sem imaginar os sonhos que sonhou...
Que tenha sonhado, no mínimo, os mesmos sonhos!É o que dele se espera...

Ah... O outro que teima em ser outro que não o que se espera que seja...

Ah... O outro que atrai e afasta, que satisfaz e frustra, que se aproxima e se distancia em si mesmo...

Quem é esse outro?

Muitas vezes, é aquele que não pode ser. Anulado, subjugado e depreciado.
É aquele que não é, senão, o que dele se espera... Ou é aquele de quem se precisa... Mas que não pode se dar conta disso, para que as deficiências de um sejam contidas pelo outro...

Ver o outro como é, ouvi-lo, apreender seus códigos, gestos, atitudes - seus sinais - para, aos poucos, compreende-lo é mesmo arte! Arte de conviver. É sinal de maturidade emocional e psicológica. É respeito e, principalmente, reflexo de quem já conhece um pouco de si mesmo.

Ah... O outro... Mistério... O desconhecido a quem, se nos puséssemos a conhecer, passaríamos a vida conhecendo...

sábado, 15 de maio de 2010

Ser quem voce é - é suficiente para voce?

Recentemente, ao escutar o relato de uma pessoa, a respeito de algumas situações que lhe provocam sofrimento, observando a maneira como o fazia, as palavras que usava, as expressões do rosto, sua postura..., pareceu-me haver naquela pessoa um senso de insuficiência que me chamou bastante a atenção.
Entre outras queixas,relatou sobre o efeito que a psicoterapia lhe proporcionava. Com ela, sentia-se mais segura, sem tantas dificuldades para enfrentar seus problemas. Mas, esse efeito ao longo do tempo, perdia-se e, depois de algum tempo, voltava a se sentir perdido, confuso, inseguro. (Havia passado por psicoterapia em outros momentos de sua vida, com diferentes profissionais.) Não aceitava precisar do psicoterapeuta, como de outras pessoas para confirmar suas impressões ou para ajudá-lo a tomar decisões importantes.Mas, ali estava ele de novo ...

Essas informações fizeram com que me ocorresse a imagem do olhar entre a mãe e seu bebe... A alegria que a criança exibe quando sente, através desse olhar, o prazer da mãe em te-la em seu colo e do seu próprio prazer em estar com ela, parece traduzir a necessidade que temos de sermos refletidos pelo outro, de nele confiar e de por ele sermos contidos.
O sentimento de conforto que a criança vivencia ao sentir-se segura e compreendida em suas necessidades, ao ser aceita simplesmente pelo que é; e, o bem estar que a atenção genuína de alguém para aquele que somos, são sentimentos importantes para a formação da auto-estima e da segurança pessoal.
Aprendemos muito sobre nós, quando contamos com a atitude que transmite segurança, aceitação, respeito pelo ser único que, aos poucos, diferencia-se e afirma-se como tal, tanto no início de nossas vidas, como nas primeiras etapas da psicoterapia. A confiança básica em si, no outro e na vida, desenvolvida através dessa atitude e das vivencias que proporciona, contribui para que o sentimento de si mesmo consolide-se como fonte de segurança e inspiração. Diferenciação, individuação, auto-realização e, em certa medida, auto-suficiência são objetivos da educação saudável e de aprendizagens bem sucedidas.

As diferenças individuais são relevantes, também, nesse contexto:

Uns precisarão mais desse reflexo do que outros; assim como, alguns precisam conferir mais vezes sua imagem refletida nos espelhos.
Uns vivem bem, sem espelhos; outros, não vivem sem espelhos!
E entre aqueles e esses, estão os que recorrem ao espelho, quando necessário. A maior parte do tempo estão seguros de si, estão satisfeitos com sua aparência, com seu modo de ser e de viver a vida. Esses conseguiram, fundamentalmente, através do que lhes foi refletido, um continente para que pudessem ser quem são e, com isso, desenvolver o sentimento de suficiência e auto-estima.
As falhas nesse vínculo, originariamente entre mãe e filho, levam a pessoa a buscar no outro - como naquele conto de fadas em que a rainha perguntava sempre ao seu espelho se havia alguém mais bonita do que ela - a sua referencia, o seu continente e a confirmação de seu valor pessoal. Não raro, as pessoas se sentem com uma essência má, num mundo ruim e sem direito a uma existência plena e, pior, sentem-se elas mesmas culpadas disso. Nos assim chamados distúrbios narcisistas, encontramos o sentimento de insuficiência aliado aos problemas de auto-estima e às diversas formas de fobia. Também, não são raros os distúrbios psicossomáticos.
Sentir-se percebido e respeitado; vivenciar o interesse genuíno de outra pessoa que possa encorajar a expressão dos mais variados sentimentos, para que se possa descobrir quem se é verdadeiramente (num mundo rico de possibilidades, onde é possível confiar nas pessoas e na vida ) – favorece não só uma auto-estima elevada, mas, o sentimento de auto-suficiência que, neste sentido, é de suma importância para a realização daquele que cada um é.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O “Homem Interior”* – Animus

Alguns aspectos da contraparte da personalidade feminina


Mariana*, 60 anos, viúva há quase seis anos, quatro filhos, dos quais três estão casados, deixou a cidade de origem em função das grandes mudanças que sofreu após a perda do marido. Durante os anos de casada, sua vida continua girando em torno da família. Órfã de mãe aos treze anos, desde pequena, sempre ajudou a cuidar – a cuidar dos outros.
Ao mudar-se deixa pai, irmãos, amigos e uma história de vida para trás... É acolhida pelo irmão caçula e cunhada na empresa deles por aproximadamente três anos, na cidade vizinha a que mora atualmente. É demitida por conta da necessidade de redução de despesas da empresa que, naquele momento, enfrentava dificuldades. A partir daí, intensifica seu questionamento sobre o que fazer de sua vida.
Leva a termo o projeto de compra de um imóvel, fixando sua residência na região para a qual veio. Retoma a psicoterapia e a prática de atividade física, viaja, visita os filhos, netos, mas, não consegue se recolocar no mercado de trabalho. Os sentimentos de insegurança quanto ao seu sustento e futuro são intensificados. O tempo passa e ela se sente impotente, diante da nova realidade. A auto-estima é fortemente abalada, gerando angustia e Mariana não vê saída. Paralisa-se.
É orientada a buscar o voluntariado. Com muito esforço, consegue iniciá-lo. Como essa atividade é muito recente, ainda não é possível dizer nada sobre o que trouxe ou trará para sua vida. Ela, ao mesmo tempo em que tem elevada expectativa em relação a si mesma e a novas possibilidades de trabalho, sofre por esperar pouco do que parece possível.

“Com grande freqüência, a mulher não consegue identificar e integrar qualidades que a ajudariam a se sentir forte, dotada de recursos, com capacidade para investir em si mesma, a fim de se apropriar e sustentar a própria vida” (Linda S Leonard). Com Mariana não é diferente. Mas, por que, ela que sempre foi tão competente no cuidado do outro, não consegue se perceber capaz, não consegue ir em busca do próprio sustento e da alegria de viver? Por que não consegue desenvolver uma disciplina capaz de lhe dar uma direção e de levá-la a atingir seus objetivos?
“A consciência que as mulheres desenvolvem de si e do seu potencial de realização depende em grande parte do quanto a ajudem o próprio pai e a cultura a que pertencem” (idem). São eles que, inicialmente, contribuem para o desenvolvimento dos aspectos atribuídos ao princípio masculino presentes na personalidade de toda mulher. C.G. Jung chamou de Animus o lado masculino da personalidade feminina que a integra e complementa.
“Entretanto, nem toda mulher é incentivada a se desenvolver de forma consciente, autônoma e independente” (idem). Pelo contrário, há ainda muitas mulheres em nossa cultura buscando seu valor através da figura masculina; entregando ao homem a tarefa de confirmar seu valor pessoal. Outras, identificadas com o masculino, “subjugam em si mesmas qualidades e competências próprias do feminino, alienando-as de sua própria criatividade, de relacionamentos saudáveis com homens, da espontaneidade e da alegria de viver” (Linda S. Leonard).
“O lado masculino mal constituído divide-se em opostos que, alternados entre si, leva a mulher a oscilar entre sentimentos de autocomiseração, de depressão e de inércia. De um lado, ouve uma voz lhe dizendo que não é capaz e de outro, o apelo para que ceda à impotência e aos sentimentos negativos, como por exemplo: De que forma vou fazer isso?... Não presto para nada... Tudo que faço dá errado... Não tem jeito...” (idem)

Mas o que está por trás de uma auto-imagem tão negativa? O que torna e mantém as mulheres tão inseguras e pouco confiantes?

O princípio paterno fornece a noção de autoridade e de organização interna, quando ausente ou deformado, constela a oportunidade do aparecimento desses aspectos negativos do “homem interior”. “Ao acreditar nessa voz, inicia-se um círculo vicioso que perpetua a visão negativa de si mesma, como pessoa fraca e sem valor” (idem).
Do outro lado da mesma questão, isto é, quando os aspectos negativos do animus – “do homem interior” estão constelados, ” a mulher tenta incorporar o pai em si mesma e, não raro, exaure-se das batalhas e do trabalho que executa, de tal forma que o significado que um dia tudo isso teve para ela, é perdido... Carregar o tempo todo o peso de realizações, deveres, sacrifícios, negar seus impulsos em favor de objetivos mais valiosos tem preço muito alto! Por exemplo, é comum essas mulheres terem explosões de mau humor, sentirem dores de cabeça, ficar deprimidas” (idem) e serem surpreendidas por erros e enganos que não são facilmente perdoados por elas mesmas. “A raiva e os ressentimentos encontrados por debaixo dessa competência, eficiência e responsabilidade revelam a vulnerabilidade dessa mulher” (idem) que como aquela (que não acredita na própria força) “ tem dificuldade para dirigir seus esforços no sentido do seu auto-desenvolvimento” (idem).
Carol*, bravamente (em todos os sentidos) vem desempenhando o papel do filho que o pai gostaria de ter tido, apesar dos três filhos homens que teve. Ouviu varias vezes do pai essa confirmação. Filha de pai autoritário e déspota encontrou na identificação com ele um jeito de ser valorizada como mulher!Do seu ponto de vista, é ela quem da conta de tudo e de todos, tanto da família de origem como da que constituiu. Casada, com dois filhos, exerce com eficiência a profissão de engenheira, mas, sente-se sobrecarregada, pressionada, mal compreendida. Entretanto, não consegue delegar, dividir suas tarefas por acreditar que “tudo está com ela” e que será difícil alguém fazer como ela, principalmente no que diz respeito à administração da vida doméstica. Ao mesmo tempo em que exerce com veemência o papel de amazona, lamenta não ser vista como a mulher que precisa de cuidados, atenção, reconhecimento e valorização.
Sabe que precisa se aperfeiçoar para se manter no emprego – mas, não consegue imaginar-se com mais essa tarefa. Deseja sair do emprego, ressente-se por efetivamente ter que dar conta da família, uma vez que o marido está iniciando nova atividade profissional. Fato que reforça e incrementa a percepção de que sem ela, tudo desmorona. Quer evitar isso, mas muitas vezes, chega perto de “jogar tudo para o alto” de tanto cansaço. Pressiona o marido a atingir seus novos objetivos logo para que ela, enfim, possa descansar, cuidar de si, dos filhos, da casa... Do seu feminino!

É interessante observar as contradições dessas mulheres que vivem sob o julgo dos aspectos negativos do animus. Tanto um tipo como outro – a que nada pode e a que pode tudo -, revelam sérias limitações para assumir a responsabilidade pelo próprio desenvolvimento; ora atribuindo ao homem a responsabilidade pela sua realização pessoal, ora atribuindo a ele (ao outro, às circunstancias de vida...) a culpa ou a incompetência para tal. “O que precisam saber é que apesar das influencias que recebem dos pais, não são determinadas por elas, portanto, não precisam permanecer meros produtos deles” (Linda S. Leonard).
O potencial para a auto-realização existe em todos nós. "De acordo com Jung, existe na psique um processo natural de cura que se dirige ao equilíbrio e à totalidade. Os arquétipos, ainda segundo ele, são padrões naturais de comportamento que estão disponíveis como modelos internos, mesmo que os externos estejam ausentes ou sejam insatisfatórios"(idem).A transformação de padrões de comportamentos indesejados sempre partirá da aceitação das próprias fraquezas e limitações, dos próprios sentimentos e história de vida. “Uma nova humildade nasce dessa aceitação e propicia uma abertura para se penetrar no fluxo da vida” (idem).

Fluxo que se interrompe de tantas outras maneiras...

Valéria*, 30 anos,casada, sem filhos, a primeira a chegar à universidade tanto do lado da família da mãe como do lado paterno. Primeira filha de um casal de pouca instrução, aos poucos, permite-se usufruir das oportunidades que o novo estilo de vida lhe proporciona. Acreditando-se com poucas ferramentas para lidar com a nova realidade, sempre se sente muito medrosa; mas, com admirável disposição para o trabalho e para aprender. Conserva a essência simples e, apesar do novo padrão aquisitivo, pensa mais em poupar e investir para não faltar no futuro, do que gastar com bens de consumo mais imediato.
Muito dedicada como profissional, aperfeiçoa-se, dedica-se, procura e aceita os desafios necessários ao crescimento profissional, mesmo que nem sempre se sinta confortável no exercício dessas atividades. Descreve-se com tendencia a ser fechada em seu mundo, muito quieta e sem energia, principalmente, para viver os outros aspectos da vida. Tem interesse em fazer cursos na área da culinária, da moda, em se dedicar mais às pessoas, às atividades relacionadas à organização da casa... Mas... Acaba muitas vezes diante da TV sem levar a termo nenhum desses propósitos ou se ocupa de outra coisa que, geralmente, não tem nada a ver com os objetivos que planejou atingir. Não se permite “ficar sem fazer nada, com tanta coisa para fazer...”,apesar do cansaço do dia trabalhado. Sente-se desconcentrada, muitas vezes, sem foco, sem direção, sempre se propondo objetivos que não consegue levar a termo – o que a frustra e dá a sensação de incompetência – incrementando, assim, seu sentimento de inferioridade, de insatisfação e de tédio.

Aqui encontramos outro exemplo do círculo vicioso que se perpetua, confirmando a crença de que é uma pessoa fraca, que pode ficar desempregada e com dificuldades financeiras como o pai. A visão que tem dele confunde com a imagem de si mesma. O “homem interior” identificado com o pai não é suficientemente capaz de ajudá-la a organizar seu mundo interno, a dar um sentido para sua vida, para que possa, finalmente, usufruir de seus conseguimentos e de sua feminilidade.
Mariana, Carol e Valéria revelam aspectos negativos do animus que se alternam, fazendo com que elas e, tantas outras, oscilem entre sentimentos e comportamentos que as deixam presas e perdidas em si mesmas, impedindo – a elas e aos que as cercam – de relacionamentos saudáveis e da alegria de, simplesmente, viver a vida.















*Mariana, Carol e Valéria são nomes fictícios de pessoas atendidas em psicoterapia.
*A expressão “Homem Interior” é utilizada por Linda S. Leonard em seu livro: ”A Mulher Ferida – Em busca de um relacionamento responsável entre homens e mulheres”. Ed Saraiva.
*Linda Schierse Leonard é psicóloga junguiana, trabalha como terapeuta em San Francisco. Além da clínica particular, faz palestras e seminários sobre o tema “mulheres feridas” e tem diversos artigos publicados em jornais e revistas.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Falando sobre Culpa

Ao falar sobre o processo de autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal, venho destacando qualidades, disposições inatas, recursos que, devidamente mobilizados, aumentam a potencia do indivíduo no sentido de sua autorrealização. Além da motivação, disciplina, força de vontade e da capacidade para resistir às frustrações inerentes à liberdade de escolha do ser humano, os sentimentos tem seu lugar e são parte importante nessa engrenagem que move ou paralisa cada um de nós na direção da aceitação de si mesmo, do equilíbrio, do bem estar.
Medo, tristeza, raiva e inveja são sentimentos que tanto podem ser vivenciados de forma negativa, como positiva. Cada um deles pode ser transformado, à medida que for compreendido e aceito como condição humana. Cabe saber, aprender a lidar com eles, para tirar-lhes o melhor. Por exemplo, do medo – a auto preservação, da raiva – a auto defesa e da inveja – a criatividade.
A culpa me parece ser um dos sentimentos mais complexos e com sérias implicações no comportamento e, portanto, na vida do ser humano. Ela é avassaladora, corrói a alma, assola a auto-estima e faz com que projetos de vida sejam construídos mais com base na expiação do que na realização; isto é, ao invés de realização, o que se busca com eles é castigo ou punição. Muitas histórias de insucesso ou de sofrimento emocional sem fim podem ter como pano de fundo o sentimento de culpa.
A necessidade de expiar culpa inibe o crescimento pessoal, conduzindo a pessoa a distorções na percepção de si e da realidade que a cerca. Ela fica à mercê desse agir que não dá ouvidos a ninguém, muito menos, a si mesma – ao seu mais profundo e autentico eu. Acredita-se sempre em dívida, sempre deixando a desejar, focando sua autocrítica naquilo que faltou completar, naquilo que não fez tão bem... Em outras palavras, fixando seu olhar no que faltou realizar e não no que realizou.
Geralmente, são pessoas que se exigem muito, que colocam metas muito distantes de si, metas quase inatingíveis, que constroem projetos grandiosos e que, por isso mesmo estão sempre insatisfeitas com seus conseguimentos. Por conta dessa dificuldade de se aceitarem como são, estão sempre cheias de justificativas para os seus comportamentos e não raro são desconfiadas e auto-suficientes. Com isso, afastam-se da realidade – único cenário onde é levado a termo aquilo que se deseja.
Viver intensamente a falta, o insucesso, a derrota, o fracasso, expia a culpa. Afinal, quem a vivencia acredita, mesmo que de forma velada, que merece ser castigado! Levar pedras até o alto de uma montanha e vê-las rolar de lá, eternamente, foi o castigo que recebeu Sísifo (personagem da mitologia grega) pelos crimes que cometeu! Quantas ações, comportamentos, projetos de vida, não deixam de ser realizados, aparentemente, sem nenhuma razão para tal? Não serão eles as pedras de Sísifo? Ou seja, qual a real finalidade dessas ações e que sentido elas encerram?
Além do sentimento de culpa decorrer, em grande parte, da percepção que o sujeito tem de si - quanto ao que aprendeu ser esperado dele, do modo como age e dos seus sentimentos em relação a essa expectativa – há aquele que resulta da traição da alma por si mesmo! Não ser verdadeiramente aquele que se é, não dizer aquilo que realmente pensa, sente ou quer, enfim, agir na maior parte do tempo para agradar, para se esquivar ou evitar crises, confrontos com os outros – é trair a alma! Deixar de colocar em prática - simplesmente por deixar- projetos de vida, desde os mais simples desejos às mais complexas realizações – é trair a alma! Quando se pensa mais no que poderia ter sido dito ou feito do que no que se fez ou disse, possivelmente, a alma foi traída! Quanto mais se atribui aos outros a responsabilidade pela própria realização ou a culpa pelo seu fracasso, maior é a traição da alma por si mesmo!
Trair a alma é tão grave que o corpo sinaliza a ameaça ao eu: taquicardia, sudorese, boca seca, dilatação de pupilas, tremores, respiração curta, etc.; enfim, alguns ou todos os sintomas próprios da ansiedade são, também, sinais de traição a si mesmo!
Também aqui, há quem não de ouvido a esses sinais e siga adiante, em direção a anulação de si mesmo... - o pior dos castigos! Como último apelo, a depressão é desencadeada – mais um sinal do eu desamparado - o grito de socorro da alma traída!
Assim concluo que, até mesmo, o doloroso sentimento de culpa é de fundamental importância ao processo de autoconhecimento e realização pessoal. Mais uma vez:- o trabalho de conscientização dos sentimentos e a aprendizagem dos modos de lidar com eles, que cada um pode desenvolver, são fundamentais para uma vida saudável e realizada. É preciso acolhê-los para se transformar.