A ansiedade e seus transtornos podem ser entendidos como sintomas da dificuldade que o homem contemporâneo tem de apropriar-se de si mesmo (e de suas emoções) e de fazer uso da condição de ser livre. E é nessa condição que ele, em sua singularidade, encontra sustentação e faz escolhas.
Se antes, era difícil fazê-las por conta de padrões de comportamento rígidos e muito bem definidos e de regras claras que, de fato, norteavam a vida de boa parte das pessoas, hoje a falta deles ou a multiplicidade de padrões disponíveis, não torna mais fácil essa tarefa. Pelo contrário! Definir limites para a própria individualidade, para que cada singularidade seja colocada de forma sustentável, gera o sentimento de desamparo, gera incertezas, angústias, medo e, por isso mesmo, é algo a ser evitado; afinal, hoje tem-se baixa resistência a frustrações! Não se aguenta sentir, sofrer.
Acredita-se que devemos, apenas, ter prazer! Por conta dessa crença cede-se aos muitos apelos para que nos afastemos de nós. Apelos que iludem quanto aos caminhos que conduzirão, de fato, à liberdade, à felicidade. São muitas ofertas e promessas de felicidade. O que escolher? Difícil. Mais fácil é seguir adiante...
Consumimos de alimentos a drogas – as lícitas e as ilícitas - e nos entorpecemos com a satisfação de todos os nossos desejos ou pela impossibilidade de te-los todos realizados.
Chama a atenção o número de propagandas que levam o consumidor a pensar naquilo que o faz feliz. "Brincar, passear, ler, reunir a família e os amigos, ter uma boa conversa, comer chocolate, namorar, não fazer nada, ter tempo para pensar", levantar voo nas asas dos próprios sonhos... E, aqui voltamos ao que faz sentido para cada um.
Volta-se para o singular, ao sujeito que faz escolhas que pode ter o domínio de si e que, assim, é capaz de sustentar-se e de realizar-se.
Ocorre-me a imagem de uma criança, libertando-se do andador, feliz, muito feliz, por ter finalmente conseguido andar sozinha!
Quantas imagens, quantas lembranças temos das conquistas que testemunhamos em nós e nos outros?! Quantas tentativas precisamos fazer para adquirir uma habilidade, para dominá-la; para realizar uma tarefa; para chegarmos ao fim de um desafio? Ás vezes precisamos fazer várias, outras vezes nem tantas... Mas, certamente,o sentimento de autoconfiança e realização são mais fortes, quando finalmente, atingimos nossos objetivos.
Esse sentimento é um dos que ajudam a nos sustentar, favorecendo a consciência de si, que também, inclui os limites dados pelas nossas incompetências.
Reconhecer do que se é capaz, ou seja, as próprias competências e incompetências, é outra condição para estabelecer os limites da individualidade, é outra condição para o exercício da liberdade.
Qualquer unilateralidade desampara, engana, escraviza, “emperra a engrenagem”. Prejudica o “feeling”, o juízo de valor presente em qualquer escolha, por menor que seja. Saber em que terreno estamos, quais os recursos de que dispomos numa dada situação nos beneficia. Assim como ter consciência das incompetências que devem ser respeitadas ou trabalhadas ajuda muito a caminhar sobre os próprios pés - amparados pela consciência e domínio de si.
Nenhum comentário:
Postar um comentário