terça-feira, 21 de julho de 2020

Sem medo de Perder - e os enfrentamentos da mulher à luz do mito Eros e Psiquê


Se meu medo de perder Me faz perder Perder o medo Me faz pensar: Não tendo o que temo perder Nada preciso temer! M Idalina Ottoni de Andrade É assim, que ao enfrentar o medo de perder , que Psiquê aproxima-se de Eros - que a havia proibido de vê-lo, e de fazer qualquer pergunta sobre seus atos, sob pena de abandoná-la. No paraíso em que mora, Psiquê tem tudo que deseja; entretanto, não deve esquecer a restrição imposta. Suas irmãs inconformadas com isso e com o fato de Psiquê ter desposado um deus cuja aparência é monstruosa a instigam a ve-lo, apesar do risco de contrariá-lo. Numa noite, enquanto Eros dormia, Psique aproxima, cuidadosamente, uma lamparina de seu rosto. Uma gota de azeite cai sobre o peito de Eros que desperta e cumpre sua promessa: voa para longe, abandonando Psiquê. Desesperada com a perda do casamento e de suas próprias ilusões - porque, de fato, nem conhecer Eros ela conhecia - vai até Afrodite (mãe de Eros) e roga para que o faça voltar para ela. Ao procurar por Afrodite está recorrendo à sua feminilidade básica e recebe tarefas que são necessárias para que alcance os estágios de sua evolução. (SHE, pag 50). São dessas tarefas que as mulheres podem se beneficiar ao perderem o medo de perder! Eros pode ser interpretado como o"homem de carne e osso" ou como o Animus - a contraparte masculina da psique feminina - que habita o interior da mulher. Desse lugar pode auxiliá-la em seus enfrentamentos. Fora dele confunde a mulher, iludindo-a quanto à sua verdadeira força. Aqui, vamos considerar Eros como Animus. Eros ao abandonar Psique está, involuntariamente, liberando-a para que conquiste sua autonomia como mulher. Psiquê ao recorrer a Afrodite recebe tarefas, que a deusa julgava impossíveis de serem cumpridas. Seriam mesmo se, ao enfrentá-las não recebesse ajuda, através dos recursos "enviados por Animus". A cada tarefa executada Psiquê atinge um grau de consciência, aptidão e evolui como mulher. A primeira tarefa é separar. Separar sementes, grãos em pilhas. Psiquê usa seu instinto e coloca cada grão, cada semente em seu lugar. Desta maneira, transforma a confusão em ordem. Quando há confusão entre sentimentos, necessidades, desejos, motivos e obrigações - é preciso olhar para cada um deles e separá-los. A segunda tarefa envolve estratégia, para o enfrentamento de forças que podem destruir Psiquê. Afrodite pede lã dos tosãos dourados. Missão impossível . Se Psique enfrentá-los morre. Se não levar a lã, também, morre! Num primeiro momento, pensa em suicídio. Não se vê capaz de executar essa tarefa. Entretanto, mais uma vez recebe auxílio do seu interior. Acalma-se e ouve uma voz vinda de dentro: se esperar o momento certo de agir poderá aproveitar a lã que deixam pelo caminho. É só ter paciência e esperar o sol cair. Ao entardecer recolhe uma grande quantidade de lã dourada que os tosãos deixaram pelo caminho e a entrega a Afrodite que, mais uma vez é surpreendida por Psiquê. Terceira tarefa: ganhar distância dos problemas, para deles tirar só o necessário. Sem neles mergulhar. Desta vez, Afrodite quer ver se Psiquê é mesmo a autora das tarefas e a empurra para fora do castelo, designando a terceira tarefa. Mostra o pico de um monte elevado, de onde brota a fonte do rio Estige. Entrega-lhe um frasco pequeno de cristal e pede a Psiquê que traga um pouco da água da fonte. Mais uma vez, no seu íntimo deseja a própria morte. De fato, a tarefa oferecia muitos riscos devido ao grau de complexidade. Não havia como subir. Imóvel, recebe ajuda dos céus: Zeus envia sua águia, para executar a tarefa. A águia de Zeus é um símbolo do masculino. Ave de rapina, que na distância encontra o melhor momento de agir e de tirar para si o que necessita. Ter essa visão distanciada do problema e tirar dele só o necessário é mais uma função do masculino interior. A falta dessa perspectiva imobiliza, paralisa a mulher como ficou Psiquê, diante da imensidão dessa terceira tarefa. As habilidades a serem desenvolvidas pelas mulheres, diante das mais complexas situações de vida, são: Separar, para organizar. Usar seus instintos, sua intuição para separar suas necessidades, seus motivos, desejos, sentimentos, pensamentos a fim de sair da confusão em que se encontram. Esperar o melhor momento de agir. Deixar passar a raiva, a ira, ou seja, aquilo que pode destruir a si mesma, caso "bata de frente" com essa força. Ganhar distância do problema, para ter nova perspectiva dele e, assim, agir sem nele se perder. Afrodite, certamente, não ficou satisfeita com a entrega de Psiquê e lhe deu mais tarefas. Na quarta ela terá que descer ao mundo dos mortos, para trazer um dos segredos de beleza da rainha Persefone, a esposa de Hades. Tarefa que foge ao objetivo dessa parte do mito, que trabalha aspectos masculinos pouco desenvolvidos em Psiquê, os quais, foram aqui trabalhados.