sábado, 27 de abril de 2019

Sua culpa ou minha responsabilidade?

Escolhas feitas em algum momento da vida podem gerar ressentimentos futuros. E eles, por sua vez, podem desencadear depressão. Muito desse adoecimento depende de como nos posicionamos diante da vida.

Nem todas as escolhas feitas farão sentido ao longo do tempo. Variáveis que foram levadas em consideração num dado momento não estarão presentes em outro. Entretanto, ressentir-se e responsabilizar algo fora de si, ou alguém por uma tomada de decisão em nada contribui para sair desse estado de acusação, culpabilização e, principalmente, de passividade diante das próprias escolhas e seus desdobramentos.

Sentir-se derrotado diante das escolhas feitas e não se reconhecer responsável por elas, leva o sujeito a se ver como vítima, "sobretudo como vítima inocente de um vencedor que, nesses termos, passa a ocupar o lugar de culpado. É no lugar da vítima que se instala o ressentido, cujas queixas e acusações dirigidas silenciosamente a um outro funcionam para assegurar sua inocência e manter sua passividade" (Maria Rita Khel). Acrescente-se a isso a vaidade por sentir-se melhor do que os outros,quando por eles foi capaz de abrir mão de seus desejos, de seus projetos etc...

Vítima, diante desse Outro mantém-se , sem assumir responsabilidade por si mesmo, pelos seus desejos. Para Khel, as "manifestações de ressentimento referem-se a um prejuízo pelo qual o sujeito foi co-responsável - no mínimo por ter cedido a um outro, sem lutar, sobre algo que dizia respeito a seu desejo".

O ressentimento leva à cobrança indireta (ou direta, dependendo da severidade dele) daquilo que foi dado ao outro por submissão ou por generosidade (vide texto anterior sobre egoísmo e generosidade). Entretanto, o sujeito não se arrepende disso -  ele acusa o outro por isso. "Ele não luta para recuperar aquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez"(idem). 

Muitas vezes, o ressentimento fecha a pessoa num círculo vicioso, em que só a vingança pode aplacar um pouco desse sofrimento. Vingança vista por Freud como "covardia moral". Nela, a pessoa renuncia a um desejo em nome da submissão desde ao superego até a um outro, de fato; mas, depois cobra insistentemente, pelo que se negou. O prazer da vingança é vivido na repetição, na insistência da acusação e não em sua efetivação.

A saída possível para o ressentido está na responsabilidade por  escolhas que acabaram em sofrimento, sem culpar ou acusar alguém por isso. Ela está, também, na humildade - virtude que faz com que não se queira ser superior, melhor que outros. E na justiça, através da qual, afirma-se os próprios desejos, bem como os do outro.

Todas essas saídas levam à renúncia da passividade, diante da sua própria vida. Requerem, potência de vontade. Em última instância, implicam no desejo de sair desse sofrimento. Sair dele por si e para si.