Nem todas as escolhas feitas farão sentido ao longo do tempo. Variáveis que foram levadas em consideração num dado momento não estarão presentes em outro. Entretanto, ressentir-se e responsabilizar algo fora de si, ou alguém por uma tomada de decisão em nada contribui para sair desse estado de acusação, culpabilização e, principalmente, de passividade diante das próprias escolhas e seus desdobramentos.
Sentir-se derrotado diante das escolhas feitas e não se reconhecer responsável por elas, leva o sujeito a se ver como vítima, "sobretudo como vítima inocente de um vencedor que, nesses termos, passa a ocupar o lugar de culpado. É no lugar da vítima que se instala o ressentido, cujas queixas e acusações dirigidas silenciosamente a um outro funcionam para assegurar sua inocência e manter sua passividade" (Maria Rita Khel). Acrescente-se a isso a vaidade por sentir-se melhor do que os outros,quando por eles foi capaz de abrir mão de seus desejos, de seus projetos etc...
Vítima, diante desse Outro mantém-se , sem assumir responsabilidade por si mesmo, pelos seus desejos. Para Khel, as "manifestações de ressentimento referem-se a um prejuízo pelo qual o sujeito foi co-responsável - no mínimo por ter cedido a um outro, sem lutar, sobre algo que dizia respeito a seu desejo".
O ressentimento leva à cobrança indireta (ou direta, dependendo da severidade dele) daquilo que foi dado ao outro por submissão ou por generosidade (vide texto anterior sobre egoísmo e generosidade). Entretanto, o sujeito não se arrepende disso - ele acusa o outro por isso. "Ele não luta para recuperar aquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez"(idem).
Muitas vezes, o ressentimento fecha a pessoa num círculo vicioso, em que só a vingança pode aplacar um pouco desse sofrimento. Vingança vista por Freud como "covardia moral". Nela, a pessoa renuncia a um desejo em nome da submissão desde ao superego até a um outro, de fato; mas, depois cobra insistentemente, pelo que se negou. O prazer da vingança é vivido na repetição, na insistência da acusação e não em sua efetivação.
A saída possível para o ressentido está na responsabilidade por escolhas que acabaram em sofrimento, sem culpar ou acusar alguém por isso. Ela está, também, na humildade - virtude que faz com que não se queira ser superior, melhor que outros. E na justiça, através da qual, afirma-se os próprios desejos, bem como os do outro.
Todas essas saídas levam à renúncia da passividade, diante da sua própria vida. Requerem, potência de vontade. Em última instância, implicam no desejo de sair desse sofrimento. Sair dele por si e para si.