terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Suporte para suportar

Gerações atrás observaram na disciplina, no bom comportamento ( em casa, na escola, entre parentes, amigos e outros ) o controle da vontade - a força de vontade -  guiada em grande parte por valores e princípios responsavelmente transmitidos.

Em geral, havia consenso quanto ao que transmitir e esperar das pessoas em seus vários ambientes. Essa etiqueta, essa pequena ética do comportamento contribuía para o desenvolvimento de importantes pilares do crescimento pessoal, social e profissional. Boa educação, naquela época, levava em conta a aquisição dessa etiqueta.

Freud chamou de supereu (superego) a instância que exerce o poder de decidir, a autoridade introjetada que forma parte da consciência moral dos indivíduos e dita maneiras adequadas de se comportar.

À medida que avançamos no tempo esse supereu sofre mudanças e, como um elástico esticado várias vezes, ganha flacidez. Com ele mais frouxo a vontade cede cada vez mais aos caprichos, aos desejos e ao imperativo da busca do prazer.

Sentir prazer passa a ser a regra! Prazer não combina com etiqueta,  frustração, esforço e muito menos com sacrifício. Afinal, merecemos ter e fazer o que queremos.

A tarefa de educar, mais do que nunca, é terceirizada. A configuração familiar tem na criança e nas vontades seu centro. Assim como o supereu não é mais ouvido, a autoridade dos pais e de outros adultos não é mais reconhecida. Muitas vezes perdidos quanto ao seu papel de educadores tem dificuldades de definir, colocar e manter limites.

Nesse cenário a questão é: temos continente para suportar pulsões, sentimentos como raiva, inveja, ciúme, as frustrações e, até mesmo a sexualidade? Há consciência moral que faça perceber que há um outro além de si mesmo? Que faça de cada um responsável por si e pelo que é comum a todos?

A rigidez daquele supereu , assim como a flacidez dos limites de hoje em dia , são dois polos antagônicos que precisam ser considerados por todos para que se volte a acreditar  na possibilidade de levar a bom termo a própria vida e a convivência com o outro, num espaço que é de todos. Que, enfim, é possível ter em si suporte para suportar.