quarta-feira, 29 de novembro de 2017

"Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza"

E, como temos nos lambuzado!!!

Fomos cedendo, cedendo às vontades e aos "merecimentos" cada vez mais vistos como necessidades. E nos lambuzamos! 

Alçados por ideologias que transformam valores, estilo de vida e comportamento em "melado" não prestamos atenção no quanto disso nos satisfaz, se de fato precisamos de tanto e tão imediatamente.

Muitas vezes, o se "lambuzar" leva a arrependimentos que, nem sempre podem ser revertidos.

Quanto menos capazes de nos impor frustações menos frutos colhemos - mais tempo perdemos.

Desde cedo é bom aprender a lidar com frustrações. O imediatismo na satisfação de desejos não tira as pessoas do lugar, dá-lhes apenas a ilusão de liberdade, de poder.

Amadurecer é condição para reproduzir, para frutificar, para tirar da vida aquilo que é necessário. Requer enfrentamento, imposição de esforço e, portanto, de frustrações - que suportadas, geram sentimentos  autênticos de potência e liberdade.

Quem aprende a comer melado, quando come : saboreia, satisfaz-se e não se lambuza!





quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O que garante humanidade ao ser humano?

No movimento em que nos encontramos, para aceitação das diferenças; nessa grande desacomodação de todos os setores da sociedade humana, mesmo com a resistência esperada nas mudanças, que leva a extremos opostos, encontramos o ser humano carente de humanidade.

Humanidade que não é dada simplesmente porque se é ser humano.

Humanidade que é construída desde o aparecimento do homem na Terra, principalmente, através da evolução de ferramentas criadas e desenvolvidas para solucionar os problemas de seu dia a dia e satisfazer suas necessidades de sobrevivência.

Humanidade que, mais do que nunca, precisa ser refletida sobre a qualidade de sua humanização! 

A liberdade de ser como se é, a questão de gênero, de viver sua vida de acordo com as próprias crenças, entre tantos outros comportamentos - impõem ao ser humano, cada vez mais:
-  consciência coletiva e do ' direito a' de todos, assim como de seus deveres, enquanto ser social que é
- consciência de si e responsabilidade pessoal
- respeito à própria dignidade e a do outro
- capacidade de se colocar no lugar desse outro 
- consciência ambiental - essencial para a sobrevivência de todos. 

A constatação de que há essa urgência, ou seja, de que haja mais humanidade no ser humano, soa paradoxal! A obviedade  
da questão, entretanto, não tem garantido sua humanização.


sexta-feira, 14 de julho de 2017

Quando o amor está doente

Recentemente, escutei a expressão "o amor está doente" e passei a refletir sobre a maneira como essa ideia foi empregada. Naquela situação, havia o predomínio do sentimento de frustração, raiva, inconformismo e rejeição. O comportamento apresentado em decorrência desses sentimentos era de afastamento, de recusa em conviver com a realidade que se apresentava. A convivência entre as pessoas envolvidas naquelas circunstancias ficou impossível. O amor deu lugar ao ódio.

Mas, será que serão esses sintomas os únicos que descrevem a doença do amor?

Especialmente hoje em dia, quantos mais podemos identificar?

Quantas pessoas são vistas como são, quantas são respeitadas e respeitam? Quantas são capazes de empatia, de se reconhecer no outro?
Aliás, esse outro está cada vez mais sem importância! Sua estima depende mais da sua utilidade do que da sua qualidade de ser!

O uso e abuso desse outro é um dos muitos sintomas da doença do amor. Sintoma gravíssimo quando esse abuso se apresenta na forma de violência: psicológica, física e sexual.
Mascarado, disfarçado o agressor faz crer que ama e, na forma mais perversa de satisfação pessoal toma para si o corpo, a alma das vítimas que, ainda assim, sentem-se culpadas, inadequadas, sujas - indignas.

A perversão do prazer nas relações assimétricas ferem profundamente as vítimas na confiança em si mesmas e no outro, predispondo-as a amar aquém do seu potencial. 

O tratamento dessas feridas, como qualquer outro, tem início no reconhecimento de sua necessidade. É preciso compreender que algo tão genuíno e precioso foi tocado antes do tempo ( muito precocemente em muitos casos), quando não havia maturidade para tal vivência e que esse desenvolvimento precisa continuar para que, então, o amor em sua plenitude seja vivido de maneira saudável. 













sábado, 6 de maio de 2017

Cada um e seu lugar


A história de todos nós começa com o encontro entre duas pessoas. Encontro de desejos, de sentimentos e/ou projetos de vida; que ao serem realizados faz com que o casal se depare com circunstancias nem sempre esperadas. 

Por exemplo, maternidade e paternidade costumam ser almejadas e trazem grande realização pessoal. Entretanto, as situações que vão sendo apresentadas pelos bebes em suas adaptações, nem sempre fáceis, provocam o afastamento do casal que acaba r
estringindo-se aos papéis de mãe e pai.


Tarefa difícil essa de criar e educar filhos e, ainda permanecer numa relação de parceria, cumplicidade e prazer com aquele/a com quem realizamos sonhos como esse! E, nesse caso, que ganho para os filhos sentirem que pertencem a, mas não ocupam um lugar que não o de filho!

Explico melhor:

A segurança básica vem, especialmente, da unidade familiar constituída pelo casal do encontro onde tudo começa.
Criança precisa ter seu universo, seu espaço, sua rotina; assim como os adultos os seus, a sua! Manter viva a vida a dois, divertir-se, trabalhar bem é possível quando os filhos não são motivos de culpa, compensações das frustrações de seus pais ou da sua tendência a apegarem-se excessivamente.

A criatividade de cada casal e a parceria estabelecida entre eles ajudam a tornar possível a missão de estabelecer rotinas para o filho, dentro do contexto já existente!

A criança, desde muito pequena, não deve sentir que é mais importante que o pai ou a mãe. Se perceber sua importância assim, tende a tiranizar, a colocar os adultos sob seus caprichos. Se os pais exercem suas funções junto ao filho e se ambos o colocam com amor, cuidado e respeito em seu lugar, todos ganham e aprendem” boas maneiras “ de estar no mundo.


quarta-feira, 12 de abril de 2017

Quem está a serviço de quem?



Atingimos um avanço tecnológico que possibilita ampliarmos os horizontes de muitas áreas de atuação e de solução de nossos problemas. Recursos maravilhosos, sem dúvida. Desenvolvimento de conhecimento e produção de mais e mais informação que podem ou não ser transformadas em conhecimento.

Saber reverter essa gama de informação, em conhecimento e saber usá-lo dependerá cada vez mais do aprimoramento da capacidade de fazer escolhas, de reconhecer limites. Esses inerentes à natureza humana. Aceitar desafios, ir adiante na busca que, também, caracteriza nossa humanidade propiciou e, continuará propiciando desenvolvimento. Entretanto, a sensação de falta, de incompletude não deve nos afastar da realidade em seus muitos aspectos. Os excessos, as expectativas altas em relação a ideia de perfeição, de absoluto, por si mesmos indicam o risco de cegueira. Cegueira que impede, em alguns casos, reconhecer, avaliar e apreciar o tanto que já foi conseguido não só em termos materiais mas, principalmente, em termos dos conseguimentos que indicam evolução emocional, intelectual, física e espiritual. Por mais que busquemos evoluir e ajudar os outros nesse sentido, sempre haverá limites a serem confrontados.

Tenho observado que algumas pessoas nesse processo de busca frustram-se, sofrem por não terem suas expectativas atendidas, até mesmo por acreditarem que tudo seja possível.
Muitas vezes estendem essa crença ao outro. Esperam que ele possa e deva agir como elas e, quando frustradas, julgam-no menor, incapaz, inferior. Não só não levam em conta as diferenças individuais, como deixam de considerar que suas escolhas devem ser sustentadas por elas mesmas.
Perceber se há algum movimento desse outro na direção apontada pelo conhecimento compartilhado é de fundamental importância para o sentimento de satisfação diante da vida.
O outro, não está para agir como se quer que aja e, quando convém ser deixado de lado.


Ninguém dá conta de tudo e quem está ao lado ( muitas vezes fazendo o melhor que pode ) não tem  obrigação de pegar a "direção", quando há exaustão pela impossibilidade inerente ao ser humano de seguir fazendo, fazendo... E fazer como aquele que, normalmente, faz e acredita que, também, esteja fazendo o melhor... Quando estamos no mesmo "barco", desejamos o melhor, buscamos o melhor para todos, mas cada um a seu modo.

Desde Hipócrates estamos aprendendo que há tipos de personalidade diferentes. Desde lá viemos classificando, diferenciando pessoas de acordo com humores, com tipo físico, tamanho de cérebro etc. Chegamos aos tipos psicológicos de C.G. Jung que oferecem conhecimento rico sobre a dinâmica de funcionamento do comportamento humano. De acordo com a disposição introvertida e extrovertida, as pessoas vão se utilizar de funções racionais e irracionais, vão ter competência maior em algumas delas e incompetências em pelo menos uma delas. 

Conhecimento é ferramenta, é norte, é ampliação de consciência. Deve levar à reflexão, para que essa consciência reconheça suas possibilidades e seus limites.

Como, por exemplo, em relação à tecnologia. Em algum momento teremos que decidir, escolher o que e como queremos usufruir dela. O quanto ela está, de fato, ajudando; ou se está elevando expectativas para além do que é possível colocar em prática. Se está propiciando uma vida mais próxima daquilo que desejamos.


Por mais que se queira evoluir como pessoa, não atingiremos a perfeição, mesmo com todo conhecimento disponível. É preciso ter claro que as ferramentas estão a nosso serviço e não o contrário. É preciso saber onde e quando parar.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Casamento

Via de regra, a masculinidade e a feminilidade puras se atraem fortemente. Não são inimigas nem oponentes hostis, como parece ser o caso na maioria dos relacionamentos matrimoniais contemporâneos. O QUE SERÁ, ENTÃO, QUE ESTÁ CAUSANDO A RETRAÇÃO DO FLUXO VITAL ENTRE MARIDO E MULHER? Acredita-se que a criança desprezada dentro de ambos vem dominando o relacionamento. Ou seja, essa criança desprezada e insatisfeita vem exigindo cuidado e atenção constantes. Ela domina a tal ponto o relacionamento conjugal que este pode rapidamente deteriorar num confronto assexuado.

Se a masculinidade e a feminilidade informes de uma criança começa a vir à tona assim que nasce ou, a partir do momento de sua concepção, é somente quando se torna consciente de sua sexualidade que a criança atinge a identidade sexual. O desenvolvimento físico e da consciência dessa sexualidade tem que ter atingido maturidade suficiente para receber o obscuro mistério da paixão sexual.


O QUE SE PODE FAZER PARA QUE ESSA CRIANÇA DESPREZADA INSATISFEITA SE TORNE REALMENTE HOMEM OU MULHER? Cada cônjuge deve evitar o predomínio dessa criança. Cada um deve assumir a responsabilidade de cuidar de sua própria criança interior.
Essa criança encontrou sempre demasiada resistência destrutiva ao seu desenvolvimento. Fizeram com que se sentisse culpada e envergonhada pela peculiaridade de sua natureza. A CRIANÇA DENTRO DO ADULTO PRECISA DESESPERADAMENTE TER A EXPERIÊNCIA DE UMA ACEITAÇÃO PLENA DE SUA NATUREZA. Infelizmente, a criança exigente costuma evocar crítica e censura por parte dos outros, principalmente, quando fala pelo corpo do adulto.
O QUE ESTA CRIANÇA DE FATO DESEJA É QUE LHE PERMITAM VIVER ESPONTANEA E NATURALMENTE.

MAS, SE NÓS MESMOS CRITICAMOS E REJEITAMOS A CRIANÇA INTERIOR, COMO PODEMOS ESPERAR QUE OS OUTROS A ACEITEM? Além disso, mesmo quando os outros tem compaixão por ela, o arquétipo do pai ou mãe negativo dentro de nossa própria psique exerce uma rejeição ainda mais forte que a alheia; em decorrência, a NECESSIDADE DE APROVAÇÃO QUE A CRIANÇA TEM TORNA-SE INSACIÁVEL, não sendo jamais gratificada.


Quando a criança exigente em nós clama por outra pessoa, esta se vê provocada a assumir o papel de progenitor negativo. Ocorre-nos então uma experiência de rejeição e traição, ao lado de uma sensação ainda mais profunda de inadequação e humilhação. Quando isso acontece no casamento, o fluxo de Eros fica completamente obstruído. Para o despertar da conexão humana entre homem e mulher, é imprescindível o desenvolvimento da capacidade de conter o sofrimento da criança exigente.

  • Prolongamos o processo de transformação da criança , quando mais uma vez a rejeitamos ou humilhamos. Não é fácil conter as dolorosas necessidades da criança exigente porque estas nos parecem sempre tão simples, justas e despretensiosas:" todo ser humano tem direito a um pouco de amor e compreensão, não? Por que tenho que sofrer e conter uma necessidade básica, tão fácil de satisfazer? De-me uma causa importante e significativa e eu lhe mostrarei o que sou capaz de suportar! Mas por que devo sofrer só porque você se recusa a fazer o jantar ou cuidar da casa? Por que devo suportar essa dor que sinto, quando você me frustra sexualmente? Por que devo sofrer por causa da sua frieza e falta de compreensão para com minhas simples necessidades básicas? Um estranho demonstraria mais sentimentos por mim do que você. Não posso tolerar! Você pode falar quanto quiser que o sofrimento não tem sentido, você pode até berrar isso lá de cima dos telhados - mas, eu sei que tenho direito de esperar certas coisas e afinal não é muito exigir um pouco de delicadeza humana"...e assim por diante.


Uma criança tem, sem dúvida, o direito de esperar que certas necessidades básicas sejam satisfeitas por seus pais. Marido e mulher, porém, não são pais um do outro; esperar mais do que honestidade e abertura mata o fluxo entre ambos. E se a criança interior ainda continuar a reclamar seus direitos do outro, o casamento ficará paralisado no padrão arquetípico Pais-filho. Não haverá possibilidade alguma para uma conexão vital entre masculino e feminino, não haverá sexo de verdade. Portanto, se homem ou mulher não vê razão alguma para aguentar as "justas" exigências de sua própria criança desprezada ou frustrada: não há esperança de reais mudanças em seu casamento; não há esperança de uma reconexão com os grandes ritmos naturais de seu próprio ser e do cosmo, a não ser que você se reconecte; enquanto tudo isso não for plenamente compreendido e vivido, seu casamento só poderá ser uma prisão estéril ou um campo de batalha.

A transformação  da criança exigente não pode ocorrer sem uma correspondente mudança interna no arquétipo dos pais negativos. Esse arquétipo é constelado no momento em que se exige do outro aquilo que parece um "direito"; enfim, tão logo começamos a nos sentir magoados ou com raiva porque o outro nos desprezou, ou não nos deu o que sentíamos ter o "direito" de esperar.

COMO FUNCIONAM INTERNAMENTE OS PAIS NEGATIVOS? Eles entram em cena assim que a criança interior começa a exigir a satisfação de seus direitos, de suas simples necessidades de amor, compaixão e compreensão. Os Pais Negativos nos fazem sentir culpa por termos essas necessidades infantis e imaturas, dizendo: " você não é capaz de se virar sozinho? Você é uma criança dependente e desprezível - você não é ninguém." Palavras desse tipo nos esmagam, fazendo com que a gente tente se levantar como puder. Nesse processo, rejeitamos as necessidades de nossa criança interior. Mas, esta é persistente e logo volta com suas exigências, ainda mais fortes do que antes. Agora a batalha se ativou com fúria total e nos vemos presos entre duas forças opostas - a criança de nossa própria natureza e a força antivida dos Pais Negativos. Perdemos assim a vitalidade e ficamos paralisados, sem saber para que lado ir. Se seguimos os Pais Negativos, nossa força vital interna cai em suas poderosas mãos e nos sentimos aprisionados. E se seguimos a criança exigente, esperando  que alguém satisfaça suas necessidades, encontramos nada menos que a mesma reação dos Pais Negativos externamente. Esse dilema só pode ser resolvido se tivermos a capacidade de conter a luta. Isso permite que os Pais Negativos interiores acabem se transformando em Pais Positivos que apoiam e nutrem a criança. Assim, a criança interior começa a receber a compaixão de que necessita e podemos então descobrir o melhor meio de satisfazer suas necessidades instintivas desprezada. Nossa criança exigente reclama furiosa cada vez que nossa natureza é oprimida. Mas, se formos buscar a solução nos outros, os Pais Negativos nos engolem.


COMO SE FORMA O ARQUETIPO DOS PAIS NEGATIVOS? O arquétipo dos Pais Negativos é quase idêntico ao superego de Freud. É possível que seja constituído do mesmo modo como Freud descreve a formação do superego: ou seja, em decorrência do confronto da criança com julgamentos de valor de seus pais e da cultura. Os Pais Negativos e o superego são impostos a partir de fora e constituem conceitos, essencialmente mentais, de certo e errado, bom e mau, deve e não deve. São sempre previsíveis, na medida em que impõem uma imagem ideal ou conceito universal ao modo pelo qual o indivíduo deveria ser comportar em cada situação, em quaisquer circunstâncias. Não são mais do que uma camada externa e morta da alma, a velha pele que a alma deve soltar para que possa reluzir com vida nova. E que, não se desprendendo, transforma-se num crescimento canceroso que lentamente invade a personalidade total e acaba por extinguir a brilhante chama da individualidade.

SERÁ QUE O SUPEREGO OU O ARQUETIPO DOS PAIS NEGATIVOS SÃO ESSENCIAIS À CONDIÇÃO HUMANA? CASO NÃO SEJA, POR QUE SE APRESENTAM COMO FATOR TÃO PODEROSO DA PSIQUE? Ao invés de apoiar a vida e a renovação, nossa cultura tem, de fato, colocado-se ao lado da força rígida e antivida do superego. Visto que esses conceitos de certo e errado ou bom e mau são tão prematuramente impingidos na criança, como será possível que esta não desenvolva um superego? Seria possível, pelo menos no que concerne a influencia dos pais, não sobrecarregar a criança com uma autoridade moral impessoal, tendo diante do comportamento dela  uma reação emocional pessoal e espontânea. Desta maneira, a criança saberia o que agrada ou desagrada seus pais e, naturalmente procuraria satisfaze-los. Esses, por sua vez, procurariam saber compreender a natureza da criança, encorajando-a com amor a continuar seus esforços para mudar um comportamento específico. Tal atitude é enormemente diferente de dizer ou sugerir que você é um mau menino ou má menina se não faz o que digo neste exato momento; passando assim, a criança a sentir o progenitor como uma força que constantemente faz com que se sinta envergonhada das expressões espontâneas de seu ser. Trata-se de uma força que nunca a aceita como realmente é e que exige o tempo todo que seja algo distinto daquilo que ela é. Isso é o Superego e isso são os Pais Negativos, porque os pais positivos protegem e cuidam com sensibilidade de tudo o que cresce, permitindo que se desenvolva lenta e naturalmente, nunca forçando ou dobrando conforme sua vontade. Nesse contexto, acredita-se que a imagem do pai (ou mãe) negativo tem mais vida e faz mais sentido que o conceito de superego. Sabemos que o desenvolvimento da consciência, a humanização do homem, exige que algumas restrições sejam impostas aos instintos. Mas isso não significa que a Natureza deva ser esmagada e forçada a ser algo que não é - como gostariam os pais negativos.


QUAL O MELHOR MODO DE NOS LIVRARMOS DOS PAIS NEGATIVOS?

Fundamentalmente, o arquétipo dos pais negativos se manifesta através de uma persistente insatisfação com nosso modo de ser, não aceitando nunca a peculiaridade, as forças e as limitações de nosso ser. Eles prosperam ao manter vivas imagens e conceitos a respeito de como se deveria ser e onde se deveria estar. Cada vez que a vida começa a fluir eles procuram conte-la provocando medo e culpa e rejeitando a validade da experiência subjetiva pessoal. Eles nos fazem desprezar as necessidades e os desejos básicos de nossa alma rotulando-os de infantis, imaturos, falsos, destrutivos ou inconsequentes. Em lugar das autenticas necessidades da alma, eles nos incitam a correr atrás de uma imagem oca de perfeição. Quando uma chama real de amor ou paixão começa a arder, eles lançam histéricos avisos de perdição e desastre. Perdem o juízo por completo sempre que a mente racional ameaça render-se a um poder desconhecido e maior. Estes são apenas alguns modos pelos quais esse arquétipo se manifesta na psique humana. Conhecer suas manobras, portanto, é o primeiro passo para diminuir seu poder sobre nós.

O modo mais eficiente de obter algum controle sobre esse "demônio multiforme" é observar como funciona num relacionamento íntimo. Perceber como ele repetidamente entra em cena para deter o fluxo e romper a conexão. Primeiramente, ele pode operar em você, depois no outro, depois em ambos.Em outras palavras, dar ouvidos àquela voz que faz avaliações IMPESSOAIS e julgamentos morais sobre o estado espiritual, psicológico ou ético da outra pessoa ou o seu próprio - isso vem sempre dos Pais Negativos, estejam eles dentro ou fora. Na prática, isso significa DIFERENCIAR AS AÇÕES OU ATITUDES DE UM INDIVÍDUO E O SEU SER.


OS PORTAIS DO AMOR

Amar outra pessoa pode ocasionar a abertura de um canal para o fluxo de amor em varias direções. Quando o amor é recíproco e flui livremente, há uma expansão da consciência e da capacidade de amar. Não é o amor que fixa a atenção exclusivamente numa pessoa ou objeto, mas sim sua necessidade de abrir um canal para que possa fluir. Uma vez aberto esse canal, o amor pode novamente permear todos os aspectos da vida.

A emoção do amor é uma onda em busca da união. Removida dessa grande e nutritiva corrente de alegria e prazer, nossa alma fica fria e exangue. O eterno desejo da alma de estar em conexão com a fecundidade das coisas vivas está contido na emoção e no mistério do amor. O amor une nossa totalidade a outra. A alma encontra a alma. Só assim não há conflitos.

O desejo obsessivo por alguém significa que fomos capturados unicamente pelo aspecto físico da alma. Mas, isso não faz diferença alguma, porque a entrada no ser espiritual do outro provavelmente se dá através desse portal. O amor precisa de um canal espiritual para poder fluir.

O amor é responsável pelo desejo de envolver, nutrir e proteger a outrem. Mas o amor em si não nutre. É você, com seu ser, sua substancia e sua alma que me alimenta, assim como minha substância irá alimentá-lo se estivermos ambos impelidos à união por essa força vital. Você não tem nada a me dar, nem eu a você, se nossas almas não forem aproximadas pelo Amor.

O amor é de fato o mais precioso de todos os bens concedidos ao ser humano, mas nem você nem eu podemos dá-lo um ao outro. Só podemos nos dar a nós mesmos, e ainda assim só se impelidos por ele.


HOMENS AMANTES E MULHERES SEM AMOR


A mulher não precisa de um "amante", mas de um homem verdadeiro para com seu próprio espírito e capaz de apreciar o amor que ela sente. Na verdade, a mulher perde o auto respeito quando se sente incapaz de expressar a generosidade fundamental de sua natureza que ama. Entretanto, a mulher moderna perdeu sua conexão com o Feminino. Em lugar de amar e se sentir amorosa, ela desesperadamente procura e exige amor. Os homens também foram forçados a abandonar sua identificação com o masculino arquetípico. A perda e a falta de amor no mundo moderno forçam muitos homens a focalizar sua atenção sobre os problemas de relacionamento. As sutilezas e vicissitudes do relacionamento humano já deixaram de ser domínio exclusivo das mulheres.

A desconfiança que hoje em dia os homens sentem com respeito ao amor da mulher é em geral válida. Isso se deve principalmente ao fato de que tantas mulheres se sentem destruídas pela menor rejeição por parte do homem que amam, até mesmo quando elas próprias fizeram algo para provocar sua raiva. Como dependem tanto do amor do homem para manter a ilusão de seu próprio amor, elas tendem a desmoronar e a se sentir desvalorizadas quando o homem é negativo com elas. É claro que isso fornece ao homem um grande poder - mas, a mulher reage com outro ainda maior: sua capacidade de paralisar o homem com sensações de culpa, sua única defesa contra a força bruta da impessoalidade e da crueldade masculina.
Em geral, a mulher é incapaz de encarar o fato que o que a está corroendo é o seu próprio sentimento de inadequação; em vez disso, ela expressa profunda dor e farisaicamente reprova o homem. Este é levado a se sentir desumanamente frio e cruel, quando na verdade apenas teve uma raiva muito humana. Isso evoca nele uma profunda cólera face à impossibilidade de ser ele mesmo e de se expressar diante dela, além de colocar unicamente sobre seus ombros a responsabilidade de manter a conexão do amor. Além disso, uma enorme ira frequentemente emerge do ego despedaçado da mulher. O homem tem, assim, noção do dano e a destruição de que ela é capaz de infligir sobre os outros ou sobre si própria quando se ve fragmentada. Como pode o homem confiar no amor da mulher, se ela é capaz de destruir a ele ou a si própria caso a expressão honesta dos sentimentos dele lhe cause dor?

Outro aspecto deste atual problema do amor consiste na desesperada necessidade que tem o homem de encontrar uma mulher cheia de amor, exigindo que ela corresponda ao ideal de mulher. Ele a atinge exatamente no ponto em que ela se sente mais inadequada; ela no entanto deve resistir, para que possa se realizar. Devido a essa exigência, ela se torna ainda menos capaz de amar.

O LEGÍTIMO RESSENTIMENTO DA MULHER PELO FATO DE SER FORÇADA A DESEMPENHAR UM PAPEL ARQUETIPICO SE SOBREPÕE ASSIM AO LEGÍTIMO RESSENTIMENTO DO HOMEM, PROVOCADO PELA FALTA DE AMOR DELA.

Se o homem deixar de exigir que a mulher corresponda ao feminino arquetípico e se esta puder se livrar de sua dependência do amor do homem para encontrar a conexão com seu próprio amor, haverá então esperança de que se possa superar esse padrão destrutivo no atual relacionamento entre os sexos.




Texto adaptado do livro de Robert Stein: "Incesto e Amor humano"






quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Liberdade para fazer escolhas: a base da identidade da mulher. Como conciliar suas escolhas, quando se trata de "eu e nós"?

As ideias e expectativas em relação a mulher mudaram muito desde a metade do século passado. Consequentemente, as mulheres e suas expectativas mudaram muito nesse mesmo período.

Partiram do conceito herdado de outras gerações que nasceram para serem donas de casa, esposas e mães e que, por isso mesmo, deveriam saber valorizar o casamento.

A partir do uso da pílula anticoncepcional, da possibilidade do divórcio e da inclusão da mulher no mercado de trabalho as mulheres perceberam que o mundo era maior que o domínio doméstico e que  poderiam participar dele!

O mundo de então passava por uma revolução e as novas gerações começavam a questionar os valores das gerações anteriores. Entre outros, o movimento feminista foi marco decisivo em prol da liberdade dessa mulher.

Acontece. assim, a ruptura com os antigos modelos estabelecidos.

Individualidade, liberdade, prazer. Outro jeito de ser mulher, diferente de tudo o que foi vivido até então. A identidade feminina passa a se basear em escolhas pessoais e não em estereótipos ou conceitos pré-definidos. A mulher toma as rédeas da própria vida.

Entretanto, para chegar aí não foi nada fácil! Os conflitos entre amor e profissão, entre o “eu e o nós” permearam a vida de muitas mulheres até esse empoderamento.

Liberdade para fazer escolhas: a base da identidade da nova mulher. Como conciliar suas escolhas, quando se trata de "eu e nós"? 

Gostaria de ter mais respostas do que perguntas para o que tanto faz sofrer mulheres que se dedicam às suas vidas, são bem-sucedidas naquilo que fazem, que estão cheias de energia e criatividade para serem investidas em suas carreiras profissionais. E, ainda, querem viver suas famílias sem culpas por faltarem aqui ou ali!

Certamente, uma nova parceria precisa ser consolidada entre os que escolhem viver a vida a dois e, principalmente, escolhem atender ao desejo de ter filhos.

Como costumo dizer: hoje, os dois saem para "caçar", os dois voltam para a mesma "caverna" quase que ao mesmo tempo (aliás, depois de quase 10 horas fora dela) e os "filhotes" são dos dois; portanto, os dois estão (ou deveriam estar) igualmente envolvidos nas tarefas rotineiras dessa vida em comum, que não são poucas.

Os conflitos continuam na vida de mulheres e homens do século XXI. As mudanças não ocorrem, como não ocorreram, no ritmo do desejo. Não havendo modelos prontos de como fazer diante dessa nova realidade social, a criatividade deve ser colocada nessa equação. Assim como também e, mais do que nunca, devem entrar o diálogo e o comprometimento, especialmente, entre os pares para que desses problemas comuns nasçam soluções.