sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tristeza

Mais um sentimento importante para consideração. Que importância damos a ela?
Quanto a suportamos?
Temos mesmo que suportá-la?
Ou a crença num estado constante de prazer, que somos levados a acreditar ser possível, faz com que a desprezemos em lugar de respeitá-la?

Acredito que a tristeza, sentimento que muitas vezes, está associado a perdas, a desilusões e a decepções leva-nos para nosso interior e nos incita a ficar um pouco a sós conosco; convida a pensar, a buscar uma nova ordem, às vezes até, novo sentido para nossas vidas.

Cultivá-la é, sem dúvida, um risco; entretanto, aprender com ela, certamente, traz ganhos, crescimento – um ressurgir com mais consciência, mais resistência e mais alegria de viver.
Alguns estados de tristeza, prolongam-se. Neles andamos pela vida alheios, desligados de nós mesmos...A vida fica suspensa! É como perder o sentido da vida. O olhar para ela é cheio do vazio que a alma deixou ao se recolher ferida, é cheio de dúvidas ou de outras certezas...

Falar sobre o que nos deixa tristes, o que pensamos e queremos nesse estado, contribui, ao contrário do que costuma-se acreditar, para que ela seja elaborada. Deixar sempre para lá, distrair-se dela a qualquer custo, são medidas adotadas freqüentemente e que, quase sempre, favorecem o prolongamento desse sentimento doloroso.( Volto a lembrar que cultivar a tristeza encerra um risco de adoecer e que não é o mesmo que respeitá-la, acolhe-la para transformá-la, através da elaboração da perda sofrida, da dor sentida.)

No recolhimento para onde nos leva a tristeza não reconhecemos a vida de antes – não nos reconhecemos...Estamos perdidos de nós mesmos!

Mesmo assim, seguimos adiante. E seguir adiante é condição para a saída desse estado. O recolhimento é da alma. A rotina deve ser mantida. Estar nela, mesmo não se sentindo nela, permite que em algum momento, um elemento novo qualquer surpreenda-nos e ajude a lembrar de nós mesmos.

A alegria, contrapartida da tristeza, pode estar nesse elemento novo! É ela que chegando de surpresa faz com que a alma retorne de seu exílio e torne possível o prazer de viver um dia azul ensolarado, de sentir o sabor dos alimentos, de participar do encontro com pessoas, de rir, cantar, trabalhar, planejar, conquistar, desejar...Enfim, possibilita o prazer de estar vivo e o desejo de viver.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

RAIVA

Tão importante quanto o medo é para nossa defesa, a raiva é um sentimento que pode redimir e transformar. Geralmente, somos levados a reprimi-la, juntamente, com as mágoas que a provocam. Reprimindo-a, ela se volta para dentro, talvez na forma de sintomas físicos ou de idéias depressivas que paralisam a vida e a criatividade das pessoas magoadas ou ressentidas.

A raiva tem, contudo, uma poderosa reserva de energia que, sendo bem utilizada, poderá libertar o potencial de quem a sente. Além disso, a pessoa poderá encontrar a ordem, a estabilidade e a relação de confiança com o mundo.

Trago aqui uma adaptação do texto escrito por Linda Schierse Leonard, em seu livro “A Mulher Ferida”.
Como freqüentemente a raiva é sentida muito intensamente, muitas vezes prefere-se evitar o confronto com tal força, mascarando-a de diversas maneiras, como, por exemplo, através dos vícios. Com álcool, essa emoção pode explodir quando a pessoa se embriaga, mas sem a consciência e a aceitação responsável dessa vivencia. O excesso alimentar pode ser outro caminho para “agir arbitrariamente”. A raiva em geral está oculta no corpo. Dores de cabeça, nas costas, úlceras, colite, problemas estomacais normalmente desaparecem quando se resolve aceitá-la. A depressão, estado em que toda a energia parece sumir, é outra armadilha. Ataques de ansiedade podem encobrir a raiva. Ela pode ser disfarçada através da sedução e/ou rejeição sexual. Ela pode provocar a raiva alheia, fazendo com que o outro a manifeste em lugar da pessoa que a sente. Quantas brigas não são provocadas dessa forma?
A atitude cínica e amarga, tanto de mulheres como de homens, que “abusam” uns dos outros sem reservas, é uma forma de devolver ao outro a dependência que insistem em alimentar em si mesmos. Em geral, essa vingança assume a forma de um consumismo compulsivo que lhes absorve tempo e energia.
Sentimentos obsessivos de culpa também encobrem a raiva, pois é como espancar-se o tempo todo. Outro meio habitual de encobri-la vem através de uma atitude intelectual de “sabe-tudo” que intimida os outros ou de um ataque crítico que não vai realmente ao alvo,mas,atinge as pessoas de forma a deixá-las totalmente desarmadas.
O martírio, o ascetismo, uma ética profissional puritana, o orgulho diante do próprio senso de dever e responsabilidade podem ser maneiras de ocultar a própria raiva, assim como a postura hipócrita que permite dizer ao outro “Sou quem sou”, enquanto teme, por baixo, o tempo todo, o risco de expor a própria vulnerabilidade.
As pessoas que temem a ira incendiária da auto-afirmação podem chegar a extremos para adaptar-se, ocultando a própria raiva por trás de uma mascara social agradável. Por darem sua energia aos outros, esvaziam-se e perdem a noção de seu próprio eixo, sentindo-se fracas e impotentes. A ansiedade decorrente dessa tendência a agradar e a se desdobrar exageradamente, oculta uma raiva que nunca se aprendeu a enfrentar!
À medida que pudermos aprender a nos relacionar com a própria raiva, nossos relacionamentos e nossas vidas serão mais plenos tanto física, como emocionalmente.
Como resultado dessa aprendizagem vê-se pessoas com poder de se afirmar, de estipular seus próprios limites e de dizer “não”, quando necessário. Ao aprender a lidar com ela, podemos admitir nossa vulnerabilidade e fraquezas, assim como nos apropriar do poder e da força pessoal.
 
De que modo é possível ligar-se a essa raiva poderosa, em lugar de ser ameaçados ou aterrorizados por ela? Como é possível transformar essa emoção em energia criativa?
Há, pelo menos, dois estágios: o primeiro consiste em trazer a raiva à tona; o segundo, em transformar o poder da raiva em energia criativa. Muitas vezes, tem-se medo do fogo e da energia enfurecida que vive no nosso íntimo. A analogia com o modo como se enfrenta um incêndio na floresta serve como ilustração dessa situação. Aí se enfrenta “fogo com fogo”. Os incêndios florestais são combatidos ateando outro fogo em volta do incêndio perigoso para dete-lo. Da mesma maneira, permitir que a raiva se apresente num rompante emocionado pode, de fato, limitá-la, no próprio movimento de libertá-la. “Não vou mais suportar nada disso!” Enfrentar a ira suprimida com mais ira é o que sugere a versão dos Irmãos Grimm para o conto de fadas chamado “O rei sapo”.
Nesta versão, uma princesa, cuja bola de ouro tinha rolado para dentro de um poço, pede ao sapo que a ajude a recuperá-la. O sapo concorda desde que, em troca, a princesa o alimente, cuide dele e deixe que se deite com ela na cama. Assim que ela tem a bola de volta, esquece-se de sua promessa. Porem, enquanto janta com seu pai, ouve-se um nítido coaxar do lado de fora da porta. O pai pergunta quem é e, depois de saber a historia do sapo, ordena à filha que cumpra a promessa. A princesa sente nojo do sapo, mas o leva para seu quarto e o alimenta. Po-lo consigo em sua cama é por demais repugnante; assim, ela o deixa no chão. Quando o sapo cobra mais esse ato, o cumprimento total da palavra dada, ela se enfurece e o atira com toda a raiva contra a parede; no mesmo instante, ele se transforma em príncipe, que era na verdade sua natureza, antes de ter sido vitima de um feitiço.
A raiva da princesa é a resposta apropriada. Ao assumir a responsabilidade por ela, presta atenção a seus sentimentos e a seus instintos e confia neles. Num ato de ira, redime o sapo e o transforma em príncipe.

Através desse conto, vemos como a raiva pode ser o início da conscientização.

A transformação da raiva resulta numa pessoa forte que, com sua energia criativa e sabedoria, pode contribuir para o próprio crescimento, o de outras pessoas e, até mesmo, o da cultura.

MEDO

Esse sentimento que acompanha o ser humano desde sempre, faz com que a vida seja preservada, mas também, muitas vezes, freada, paralisada. Vida morna!
O reverso desse sentimento é a coragem. Como se passa do medo à coragem?
A coragem pede que se analisem os obstáculos a vencer. O medo também. Pensar sobre o que se tem medo ajuda mais que racionalizar. As racionalizações, que são mecanismos de defesa inconscientes, servem muito mais ao medo do que à coragem. No medo, elas são mais freqüentes e se bem construídas confundem-se com pensamentos e juízos de valores autênticos. Em geral, elas levam a respostas de esquiva ou fuga, de maneira a nos sentir justificados por não enfrentarmos os objetos de nossos medos.
Contudo, ao analisarmos, refletirmos acerca desses objetos, poderemos descobrir que nem tudo que desperta medo em nós, é impossível de ser vencido.
Há situações que despertam medo, mas para as quais, temos muitos recursos!Se nos apropriamos deles e, apesar do medo, enfrentamos essas situações, mobilizamos o sentimento, a força – nossa coragem!
Para outras tantas , podemos de fato não ter os recursos necessários e estaremos sendo prudentes não as enfrentando!
Há ainda uma terceira possibilidade,ou seja, aquela em que dispondo-se de recursos, não se enfrenta quaisquer situações que pareçam ameaçadoras!E não as enfrentando, deixa-se a vida passar... E, passando, vamos nos acomodando, sem nos dar conta do tanto que o medo nos domina.

Mas, se cada um de nós tivesse a chance de repetir a mesma vida, quantos de nós a viveria de novo – do mesmo jeito?

As reflexões, o virar-se para si, querendo compreender os sentimentos, os comportamentos que temos diante das muitas situações de vida, ajudam a nos predispor à mudanças de atitude. Através do pensamento, desperta-se desejos, projetos que são adiados pelo medo, pelo conformismo diante dele. Pouco a pouco nos desafiamos a enfrentar situações que provocam desconforto, ansiedade ou angustia. Esse enfrentamento traz o sentimento de superação e fortalece. Descobrimos que somos corajosos!
Enfim, para vencer o medo, é preciso enfrentá-lo. A coragem nasce do enfrentamento que, por sua vez, favorece o desabrochar e o fortalecimento do eu mais verdadeiro. Aquele que dá sentido à vida e que a realiza.
Muitas vezes, as defesas que são estruturadas ao longo da vida, ajudam a formar um falso eu que nos conduz mais pelo medo do que pela coragem! O autoconhecimento propicia o reconhecimento do verdadeiro eu, levando a pessoa a libertar-se de suas defesas paralisantes e a restituir-lhe o prazer de viver, sem o domínio do medo

Em Tempos de Desamparo

A ansiedade e seus transtornos podem ser entendidos como sintomas da dificuldade que o homem contemporâneo tem de apropriar-se de si mesmo (e de suas emoções) e de fazer uso da condição de ser livre. E é nessa condição que ele, em sua singularidade, encontra sustentação e faz escolhas.

Se antes, era difícil fazê-las por conta de padrões de comportamento rígidos e muito bem definidos e de regras claras que, de fato, norteavam a vida de boa parte das pessoas, hoje a falta deles ou a multiplicidade de padrões disponíveis, não torna mais fácil essa tarefa. Pelo contrário! Definir limites para a própria individualidade, para que cada singularidade seja colocada de forma sustentável, gera o sentimento de desamparo, gera incertezas, angústias, medo e, por isso mesmo, é algo a ser evitado; afinal, hoje tem-se baixa resistência a frustrações! Não se aguenta sentir, sofrer.

Acredita-se que devemos, apenas, ter prazer! Por conta dessa crença cede-se aos muitos apelos para que nos afastemos de nós. Apelos que iludem quanto aos caminhos que conduzirão, de fato, à liberdade, à felicidade. São muitas ofertas e promessas de felicidade. O que escolher? Difícil. Mais fácil é seguir adiante...

Consumimos de alimentos a drogas – as lícitas e as ilícitas -   e nos entorpecemos com a satisfação de todos os nossos desejos ou pela impossibilidade de te-los todos realizados.
Chama a atenção o número de propagandas que levam o consumidor a pensar naquilo que o faz feliz. "Brincar, passear, ler, reunir a família e os amigos, ter uma boa conversa, comer chocolate, namorar, não fazer nada, ter tempo para pensar", levantar voo nas asas dos próprios sonhos... E, aqui voltamos ao que faz sentido para cada um.

Volta-se para o singular, ao sujeito que faz escolhas que pode ter o domínio de si e que, assim, é capaz de sustentar-se e de realizar-se.

Ocorre-me a imagem de uma criança, libertando-se do andador, feliz, muito feliz, por ter finalmente conseguido andar sozinha!
Quantas imagens, quantas lembranças temos das conquistas que testemunhamos em nós e nos outros?! Quantas tentativas precisamos fazer para adquirir uma habilidade, para dominá-la; para realizar uma tarefa; para chegarmos ao fim de um desafio? Ás vezes precisamos fazer várias, outras vezes nem tantas... Mas, certamente,o sentimento de autoconfiança e realização são mais fortes, quando finalmente, atingimos nossos objetivos.

Esse sentimento é um dos que ajudam a nos sustentar, favorecendo a consciência de si, que também, inclui os limites dados pelas nossas incompetências.

Reconhecer do que se é capaz, ou seja, as próprias competências e incompetências, é outra condição para estabelecer os limites da individualidade, é outra condição para o exercício da liberdade.

Qualquer unilateralidade desampara, engana, escraviza, “emperra a engrenagem”. Prejudica o “feeling”, o juízo de valor presente em qualquer escolha, por menor que seja. Saber em que terreno estamos, quais os recursos de que dispomos numa dada situação nos beneficia. Assim como ter consciência das incompetências que devem ser respeitadas ou trabalhadas ajuda muito a caminhar sobre os próprios pés - amparados pela consciência e domínio de si.

"O Que Faz Voce Feliz?"

Em outras oportunidades defendi a importância de viver em primeira pessoa como condição de auto-realização e de felicidade. Ser sujeito da própria vida exige coragem, dedicação e determinação; para tanto, é preciso despertar o herói que existe em nós e buscar aquilo que nos faz felizes! É preciso virar-se para si e refletir sobre o que faz a sua felicidade.
As crises que se enfrenta ao longo da vida impõemreflexões importantes a cerca do como se esta vivendo, das escolhas que são feitas, mas, principalmente, dos valores que norteiam essas escolhas. O que é realmente importante? O que faz você feliz?
Como seres faltantes que somos, estamos sempre motivados a buscar: segurança, realização pessoal e profissional ,sucesso; enfim, a felicidade. O que se quer é serfeliz. Mas, onde está a felicidade? Que escolhas são feitas no sentido daquilo que nos falta? Como fazemos essas escolhas?
No início de nossas vidas, são as mães ou as pessoas que cuidam de nós que dizem por que choramos, o que devemos comer e a que horas, o que vestir, quando dormir, se é melhor desse jeito ou daquele!Enfim, nessa etapa dependemos do outro. Não somos capazes de fazer escolhas! Apenas reagimos ao conforto e ao desconforto que essas ações provocam em nós. À medida que interagimos com as pessoas no ambiente familiar, que adquirimos habilidades, conhecimentos, vamos interpretando tudo isso de maneira única e singular; e, assim, formamos a visão de nós e do mundo que nos cerca. A partir daí as primeiras escolhas são feitas.
Como acontece no meio familiar, também, sofre-se influencias do ambiente social, cultural, religioso, político e do modelo econômico onde crescemos. Cada um desses meios tem suas maneiras de dizer o que devemos escolher e como devemos fazer essas escolhas. Quais são as nossas necessidades!

E, nós o que queremos?

Queremos nos sentir amados, admirados, valorizados, “pertencentes a”. Assim, durante décadas e décadas de nossas vidas, vamos escolhendo caminhos muitas vezes distantes daquilo que, realmente, queremos. Não só caminhos são determinados por tudo isso que nos rodeia, mas, também o que desejar, o que fazer e, principalmente, o que ter. Parece que todos sabem mais o que é melhor para nós do que nós mesmos!(Apesar de há muito sermos capazes de fazer escolhas!)
Freqüentemente, pessoas se angustiam,sofrem por julgarem que há algo de errado com elas por não estarem onde dizem que é bom estar, onde, por isso, acredita-se que devam estar!
Mas, o que faz você feliz? Pelo que vale lutar tanto?Correr tanto?Dedicar-se?Entregar-se? Como e quando dar-se por satisfeito, apesar da condição humana de ser faltante?

Identificar necessidades reais favorece a definição de reais interesses que, por sua vez, geram ações que conduzem na direção da auto-realização e da felicidade. É mais fácil escolher quando se desenvolve a capacidade de fazer juízo de valores, quando se é orientado pela escala de valores que diz sobre cada um de nós, que nos revela e nos eleva à condição de seres únicos, capazes de se individuar e, por isso mesmo, de pertencer a.

-“O que faz você feliz?”

FELICIDADE

Somos seres faltantes. É isso que nos faz sobreviver, é o que nos motiva a buscar segurança, realização pessoal e profissional, sucesso; enfim, a felicidade. Queremos ser felizes. Mas,onde está a felicidade?
Além de faltantes, somos seres capazes de fazer escolhas. E as fazemos o tempo todo. O que nos falta? Que escolhas fazemos no sentido daquilo que nos falta?
Quando bebes, são as mães ou aqueles que cuidam de nós que dizem por que choramos,o que devemos comer e a que horas ,quando dormimos, acordamos, se há muita luz, barulho ,gente a nossa volta, se gostamos dessa ou daquela situação;enfim, nessa etapa dependemos do outro, do ambiente que nos cerca. Não somos capazes de fazer escolhas. Da influencia da herança genética, da interação com as pessoas que nos cercam daquilo que aprendemos com elas, das habilidades e do conhecimento que adquirimos e da interpretação que fazemos de tudo isso é que vai se formando a visão de nós e do mundo a nossa volta. E, ao mesmo tempo, as primeiras escolhas vão sendo feitas! Como no ambiente familiar, a escola, os amigos, as pessoas que admiramos, as públicas, a mídia, as oportunidades que temos ou não, o modelo político- econômico vão nos dizendo o que devemos fazer para nos sentir completos, realizados, felizes! E, nós o que queremos?
Queremos nos sentir admirados, valorizados, pertencendo à família, ao grupo de amigos, das pessoas realizadas; enfim, ao grupo das pessoas felizes. Quanto mais jovens somos, mais intensamente desejamos isso. Contudo, nós todos,seres faltantes que somos, precisamos nos sentir “pertencentes a”. Assim, durante décadas de nossas vidas, vamos escolhendo os caminhos, ditados por esses grupos, rumo à tão sonhada felicidade. Não só os caminhos são indicados, mas o que devemos ter, desejar, fazer, como nos vestir, aonde ir, como nos comportar para mostrar o que conseguimos e a que grupo pertencemos!
A crise que enfrentamos nos impõe reflexões importantes a cerca do como estamos vivendo, das escolhas que fazemos mas, principalmente, dos valores que norteiam essas escolhas. O que, realmente, é importante para cada um de nós? - “O que faz você feliz?”, como pergunta Seu Jorge no jingle do comercial de um supermercado!
Há mais de trinta anos , o rei do Butão (pequeno país entre o Tibete e a China) – Jigme Singye Wangchuk – criou um índice para avaliar a felicidade de seu povo – o FIB (Felicidade Interna Bruta). Esse índice está sendo adotado como um índice de desenvolvimento social por vários países, inclusive o Brasil. (Em outubro, o Brasil,será sede do próximo encontro internacional sobre o FIB).Esse índice já é um reflexo das mudanças que serão necessárias para que a sociedade e o ambiente no qual se sustenta, não sucumba ao modelo de unilateralidade que a idéia do quanto mais melhor impôs como aquilo que traz felicidade.Ele é resultado da avaliação de nove dimensões que tem o mesmo peso e são relacionadas entre si. As noves dimensões que compõem o FIB são:
1. Padrão de vida econômica
2. Educação de qualidade
3. Saúde
4. Expectativa de vida e atividade comunitária
5. Proteção ambiental
6. Bons critérios de governança
7. Acesso à cultura
8. Gerenciamento equilibrado do tempo
9. Bem estar psicológico
Fonte:ategea news/maio
Em outra oportunidade defendi a importância de se viver em primeira pessoa como primeira condição de felicidade. Ser sujeito da própria vida exige coragem, dedicação e determinação. É preciso despertar o herói que existe em nós para buscarmos aquilo que nos faz felizes! É preciso virar-se para si e refletir.
Hoje sabemos da importância da educação, da boa alimentação, da boa noite de sono, dos exercícios físicos, dos cuidados com a saúde física e emocional, da auto-estima, da manutenção dos vínculos afetivos, do gerenciamento equilibrado do tempo, dos sentimentos como confiança, gratidão e das atitudes de solidariedade; enfim, da importância da consciência e do respeito a si mesmo, ao outro e ao mundo que nos cerca. A felicidade é de nossa responsabilidade – de cada um de nós, de todos nós.

Reflexão

Reflexão (cs). [Do lat. Reflexione, ’ação de voltar para trás, de virar; ’reciprocidade’]s.f.1. Ato ou efeito de refletir (-se). 2. Volta da consciência, do espírito, sobre si mesmo, para examinar o seu próprio conteúdo por meio do entendimento, da razão. (Novo Dicionário da Língua Portuguesa.)


Buscamos conhecimento, aperfeiçoamento, técnicas de desenvolvimento pessoal, profissional e cada um de nós se afeta mais ou menos por tudo isso, cada um muda ou não de atitude, diante do conhecimento que adquire. O conhecimento pode restringir-se à sua aquisição, como pode levar aquele que conhece a voltar-se para si mesmo, proporcionando reflexões que geram mudanças de atitudes duradouras e eficazes.
É bastante interessante perceber como se dá a mudança de atitude.
A atitude é composta por três elementos: o cognitivo, o emocional e o comportamental. Para que haja mudança de atitude é preciso que os três componentes estejam mobilizados, ou seja, o conhecimento adquirido faz sentido, repercute emocionalmente e leva a uma ação modificada.
Muitas vezes, como já foi dito, o conhecimento restringe-se à cognição, isto é, à sua aquisição. É o conhecimento pelo conhecimento! Nesse caso, quando há ação, ela tende mais a voltar-se para a promoção da mudança fora daquele que conhece, do que em si mesmo. Em contrapartida, aquele conhecimento que é elaborado, que é compreendido e que é transformado em processo e que afeta a pessoa como um todo promove mudanças de atitudes que levam ao crescimento e aperfeiçoamento pessoal. Assim, para que haja mudança de atitude, é preciso estar aberto e disposto ao trabalho implícito no processo de conhecer e no ato de refletir. Nesse trabalho de reflexão o aspecto emocional é de fundamental importância, porque é no fogo das emoções que o conhecimento é processado!
Sem dúvida, a reflexão que leva ao entendimento do conhecimento adquirido, é de grande importância para o aperfeiçoamento pessoal, mas é diferente de mudar de atitude ou de transformar-se. Gostaria de demonstrar isso, através de dois exemplos, retirados de casos clínicos:
Antes de iniciar sua análise,* K.I.V. já tinha iniciado sua busca pelo conhecimento filosófico, religioso e científico. Por algum tempo, fala do que conhece. O conhecimento em si o fascina. Ele chega a se emocionar com ele!Mas, aos poucos, vai sendo afetado por todo esse saber que, por sua vez, promove mudanças que o levam a compreender-se melhor e a ter atitudes diante da vida mais positivas e efetivas.
Aquele conhecimento que o inebriava, dando-lhe a sensação de poder, hoje lhe dá, também, a consciência de que não é o dono da verdade. É capaz de reconhecer suas qualidades e potencial, apesar das suas limitações e defeitos. É capaz de “ouvir”!...Recentemente,declarou saber que não é melhor do que os outros...
Mais do que conhecer, trazer para si, para a própria vida o conhecimento adquirido tornou possíveis essas mudanças, favorecendo sua transformação e aperfeiçoamento pessoal. Foi preciso que ele se deixasse afetar pelo conhecimento que adquiriu para modificar-se e mudar de atitude.
De outra maneira, a reflexão, levou *F.L. a “arrancar de dentro de si um insight”, como me conta em um de nossos encontros terapêuticos. O entendimento, através desse refletir-se, faz com tenha uma percepção melhor da maneira como vem trabalhando e, assim traça ações, metas, diante de situações que sabe que mais facilmente o levam a acomodar-se. Sua tendência à acomodação e sua resistência a fazer o que não gosta estavam fazendo com que se sentisse desmotivado no trabalho, incompetente e com a forte impressão de que estava sendo avaliado negativamente pelos seus pares e subordinados. O desconforto com tudo isso é grande. Essa reflexão ajuda-o a ser sujeito das mudanças que deseja e elas o levam a sentir-se envolvido com aquilo que faz. Com o tempo, acredita que poderá usufruir de maior descontração e espontaneidade tanto no ambiente profissional como em outros.
Sem a entrega daquele que busca conhecimento, treinamento e/ou aperfeiçoamento, dificilmente há processo. E todo processo, neste sentido em especial, implica em persistência e, por que não, em coragem para refletir-se. Como em tudo que se aprende, cada um tem seu tempo de resposta, cada um tem seu ritmo de trabalho e nem todos processam os conhecimentos que adquirem da mesma maneira. As reflexões que são feitas, particularmente através da ajuda especializada, capacitam-nos em todos os setores da vida e nos ajudam a “virar para trás”, a nos voltarmos para nós e para os outros.



*Os nomes utilizados nesse texto são todos fictícios, preservando-se assim a identidade das pessoas atendidas em psicoterapia.

O Herói Em Todos Nós

Empenho, dedicação e decisão são ações que, nem sempre, estão disponíveis em momentos de crise. Sabemos o que é exigido de nós, sabemos o que fazer, mas não é incomum a falta de decisão e/ou de ação.
Os conflitos que decorrem dessa percepção e, ao mesmo tempo, dessa irresolução, geram defesas, resistência e a ação já não é mais possível. O sentimento mais freqüente é o de estar perdido.
A urgência de encontrar uma saída provoca ações sem foco e teorias que mais confundem do que esclarecem, mais atrapalham do que ajudam. O pensamento é uma função que precisa ser trabalhada, a fim de orientar decisões e ações que, efetivamente levem as pessoas a traçar e a atingir seus objetivos.
Crises, tanto internas como externas podem despertar, mobilizar uma tendência instintiva que, aqui, será tratada como o herói que existe em todos nós. A tendência instintiva que vem em socorro da personalidade como um todo e que leva a superar sentimentos de impotência (pelo menos, temporariamente) surpreende por conta de ações repentinas e eficientes!
Recentemente, acompanhei um caso de demissão que levou a pessoa a reagir de maneira prática e objetiva, sem prévio planejamento. Num curto espaço de tempo, fez sua mudança para outra cidade, dirigiu sua energia para o negócio da família, empregando sua visão e capacidade de trabalho, para enfim, torná-lo lucrativo. E em menos de um mês, estava contratada por outra empresa, no mesmo ramo daquela da qual fora demitida, sob condições muito mais próximas às suas expectativas de vida, como a flexibilidade de horário para administrar de perto seu negócio. Esse agir de forma eficiente (heróica) faz com que a pessoa ocupe seu lugar, no tempo certo. Tudo fica bem! E o processo de auto-realização pode continuar com maior disponibilidade de energia para nele ser investida.
Há outros exemplos da ação desse herói em nós. Essa ação vai sendo configurada sem que se tenha consciência disso; portanto, parece vir do nada tantas medidas, uma atrás da outra... Mas, é o desejo de mudança, é aquele saber o que se espera de nós e o que deve ser feito que contribuem para a mobilização dessa ação heróica.
Vejam o caso dos estudantes que ingressam em faculdades e vão cursá-las em outra cidade, distante de sua residência. Até então, alguns se deslocam de carro com seus pais, tem suas responsabilidades circunscritas às obrigações escolares e, algumas outras, aos seus interesses. À medida que o vestibular se aproxima vão se preparando consciente e inconscientemente para essa grande mudança de vida. Ao ingressarem na faculdade de seus sonhos, vêem-se diante de situações que exigem ações, resoluções de problemas da vida prática, que não faziam parte de seu dia a dia. No entanto, não é raro o êxito deles nessas situações, assim como, a conquista do prazer de estarem vivendo e sustentando a própria vida, longe da segurança e conforto da casa dos pais. Ações comandadas pelos seus heróis!
Mudanças provocadas pelo desemprego, pelo ingresso em um novo estilo de vida, choques emocionais, angústias, desorientações; enfim, crises são muitas vezes necessárias para que as pessoas se dêem conta da maneira como estão agindo. Como “as estruturas arquetípicas não são apenas formas estáticas, mas fatores dinâmicos que se manifestam por meio de impulsos, tão espontâneos como os instintos” (Carl G.Jung), o arquétipo do Herói se manifesta na vida das pessoas, para favorecer as mudanças necessárias a cada tomada de consciência promovida pelas crises que se vive durante a vida.
Entretanto, como se pode observar , nem sempre é tão pronta a ação desse nosso herói! Precisamos mobilizá-lo. Avanços e recuos são feitos, até que o primeiro passo seja dado. O aumento de possibilidades que a ajuda profissional gera, possibilita ao nosso herói um maior numero de ações e decisões; afinal, tanto a tendência instintiva, quanto a função pensamento precisam de recursos efetivos para que se leve a termo os enfrentamentos que a vida nos impõe.

Vivendo Em Primeira Pessoa

A insatisfação, a falta de motivação e o sentimento de frustração, são constantes na vida de muitos no cotidiano moderno.
A que se deve essa realidade? São muitos os fatores que contribuem para que esse estado de infelicidade seja cada vez mais comum. Entre eles, estão as escolhas que fazemos. O que nos leva a escolher amigos, parceiros, estilo de vida, profissão? Como fazemos escolhas tão importantes?
Não raro, essas escolhas são feitas da vida a qual se observa: a dos pais, das pessoas admiradas, das públicas..., das oportunidades que se tem, da falta delas... São tantas as motivações das nossas escolhas...
“O que quero ser, quando crescer”? Ao fazer essa pergunta, inicia-se o processo que conduz ao futuro! É o início de uma longa caminhada... Muitas vezes, os resultados buscados demoram a chegar! Em outras, o modelo seguido não traz os ganhos almejados! Não traz a felicidade sonhada!
O investimento de energia aumenta, mas a motivação para manter-se naquela atividade, diminui. Os sentimentos de incompetência, a sensação de que há algo de errado recaem sobre as pessoas que repetem ações, comportamentos, como se a crença num novo dia fosse suficiente para atingir seus objetivos. Aqueles traçados há tanto tempo...
As mudanças acontecem em nós, à nossa volta. Insistir em continuar sem ajustar o foco, sem rever interesses, valores, ganhos reais impede muitas vezes, a realização pessoal.
Reconhecer a necessidade de obter ajuda, conduz ao acerto e um novo processo tem lugar. Quanto mais cedo esse reconhecimento for feito, menor o comprometimento da vida pessoal. Aprender a traçar estratégias para os diferentes objetivos de vida, não só resultam em ganhos concretos, como também, em um sentido para ela (a vida). Passa-se a sujeito da própria história e, como tal, a vida é conduzida a partir da própria referência. A missão de tornar-se si mesmo, passa a ser uma das motivações essenciais ao processo de auto-realização.
Para efetivar essa missão, também, é necessário identificar os comportamentos que auxiliam e quais prejudicam; enfim, qual é a melhor maneira de levá-la a termo.
Á medida que objetivos são focados e comportamentos avaliados, novas configurações são formadas. Tal como num caleidoscópio, outras maneiras de ver, sentir e agir, sobre a mesma realidade, são percebidas. A auto- estima elevada pelos novos conseguimentos conduz a novos projetos de vida e, finalmente, a um sentimento de competência e realização. Na relação de ajuda, os sentimentos de desamparo e desorientação são, aos poucos, substituídos pelo sentimento de confiança.
A seguir, relatam-se dois casos reais.
T.C. trabalha há anos, numa área diferente daquela em que se formou,aproveitando oportunidade que surgiu no início de sua vida profissional. A empresa pequena, familiar como descreve, não oferecia ameaças. Solteiro, ganhando um bom salário, não sentia nenhum desconforto com sua maneira de trabalhar, nem mesmo com a atividade em si. Passados cinco anos, T.C. casa-se, muda de cidade e de empresa. A adaptação a tantas mudanças leva-o a questionar-se. Sente-se confuso, inseguro. Passa a duvidar da sua competência, esquiva-se em sua mesa de trabalho e, sempre que pode, busca uma zona de conforto dentro do ambiente de trabalho. O próximo passo é o desejo de deixar o emprego e fazer outra coisa. Quem sabe, um curso em outra área... Quem sabe...?
Sua tendência à dispersão acentua-se. É com essa queixa que pede ajuda.
Aos poucos, organiza-se. Cria métodos para focar melhor suas atividades. Os resultados começam a aparecer primeiro em sua vida pessoal. Aprende a ocupar melhor seu espaço.
No ambiente profissional, busca uma exposição maior, principalmente, junto aos seus superiores.
Conscientiza-se da necessidade de fundamentar suas ações. Adquire livros sobre assuntos que julga não ter domínio.
Essas são algumas das ações que têm feito com que confie mais em si e em sua competência. A concentração aumenta, à medida que experimenta esses resultados. Há mais foco em seus objetivos.

L.S. traçou seu caminho profissional visando trabalhar com o pai. Pretendia exercer a mesma profissão dele. Após sucessivas tentativas mal sucedidas, tenta uma área afim. Finalmente, instala-se no espaço pretendido. Entretanto, a realidade contradiz suas expectativas. Mesmo tendo bastante trabalho, não consegue realizar seus sonhos. Angustiada, desilude-se, desmotiva-se. O questionamento sobre a escolha profissional é inevitável.
Lança seu olhar para o entorno. Quer reformar o espaço físico, o modelo empresarial adotado pela equipe do pai... Tem muitas idéias, mas sente-se impotente para realizar tantas mudanças. O sentimento de impotência toma conta dela. A falta de motivação decorrente, mina sua vontade de trabalhar. Investe muita energia para dar conta do seu trabalho.
Alguns passos, no sentido da própria referencia estão sendo dados. O foco no que realmente faz sentido para sua vida tem sido mantido. L.S. trabalha intensamente para não deixar de viver em primeira pessoa.
Viver em primeira pessoa é um processo que requer empenho, dedicação e decisão. As conquistas obtidas através dele, proporcionam um prazer único – o de viver e realizar a própria vida.
Prece do Psicólogo
Senhor
O ser humano é um sacrário
Fazei com que eu sempre me aproxime de joelhos
Senhor
O ser humano é um mistério
Fazei com que sempre eu o respeite
Senhor
O ser humano é uma loucura
Fazei com que eu possa distinguir sempre a minha e a do
paciente
Senhor
O ser humano é uma permanente surpresa
Fazei-me aberto para aceitar o diferente
Senhor
O ser humano é infinito
Fazei com que eu aceite esta incompletude
Senhor
O ser humano é uma maravilha
Fazei com que eu sempre me surpreenda
Fazei Senhor
Com que eu jamais seja onipotente
Que eu jamais seja impositivo
Que eu sempre respeite a liberdade, a condição humana e a autonomia do
paciente
Enfim, Senhor,
Fazei com que eu O Sirva
Servindo o paciente e com ele aprendendo que somos todos
iguais e diferentes.
Amém

Fonte Desconhecida