segunda-feira, 21 de julho de 2025

"Efeito Instagram"

O " efeito Instagram" é um fenomeno, cujo impacto afeta a maneira como muitas pessoas olham e se relacionam com a própria vida.

Sentimentos como autoafirmação, validação, inveja, frustração aparecem em menor ou maior escala causando sofrimento em muita gente. 

A frequência com que esse fenomeno é constatado leva-nos a refletir sobre alguns pontos. Nem todos óbvios ou deduzíveis como, por exemplo, a comparação imediata entre as imagens postadas pelo outro e como ele "vive" a própria vida, com a vida vivida por seus seguidores.

A frustração decorrente dessa comparação nos dirige para sentimentos como raiva e inveja. Ambos, por sua vez, convergem para o sentimento de perda. Até, do que não se tem!

A capacidade para lidar com perdas faz parte desse complexo de sentimentos.

Perder é inerente à natureza dos seres vivos e de tudo que está exposto à ação do tempo.

Nós, seres humanos, perdemos desde o nascimento: as etapas da infância, da juventude, da vida adulta. Perdemos familiares, amigos, namoro, noivado, casamento, emprego, saúde e a vida. 

Viver é saber se despedir, é aprender a aceitar a impermanência. É saber lidar com perdas.

Chega um momento que a alegria passa, a tristeza também; as dores, os esforços para mantermos por mais tempo aquilo que conquistamos ou nos satisfaz ou invejamos!

É mesmo bom, enquanto, dura! A vida é dinâmica.

Ficar na inveja, na raiva é ressentir-se. É enfraquecer o "impulso para", é desvitalizar, é esvaziar os próprios desejos.

Usar da criatividade para buscar aquilo que se deseja, que satisfaz a si - é uma saída desses sentimentos negativos que as imagens e os "instagramáveis" têm gerado.

Os efeitos dessa busca pelo ideal têm não só provocado sentimentos negativos, como paralizado muita gente diante da própria vida. 

Ficam aqui as seguintes questões:

A que (a quem) serve seu ressentimento?

O que move sua vida, sua alma?

Para que, para quem servem seus esforços?

Como é possível viver a propria vida?




quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Como estamos amadurecendo

As recentes discussões sobre envelhecimento que estamos acompanhando, em razão do aumento dessa população, inclusive de maneira inédita no Brasil, fizeram com que ensejasse a reflexão sobre o amadurecimento.

-Como estamos amadurecendo?

-Estamos?

Em contraposição à realidade do envelhecimento, deparamos com a da extensão do período a que chamamos de juventude. Como constructo social, o conceito de juventude abarca necessidades, interesses e valores de uma mesma sociedade, além das diversidades que a constituem.

Além de uma juventude prolongada, o número de filhos por família despenca para um ou 0 . Vários são os motivos desse fenômeno, desde os econômicos até a percepção de que filhos possam cercear a liberdade dos pais. 

Mudamos muito a visão de maternidade/paternidade nesses aproximados sessenta anos. Mudança essa, como toda mudança, com aspectos positivos e negativos.

Com um número tão reduzido de filhos e as muitas atividades dos pais, cada vez mais demandados e atingidos pelas expectativas da felicidade a qualquer custo – sua e de seu(s) filho(s) – educar passou a ser uma tarefa quase impossível para muitos. 

Oferecer oportunidades de amadurecimento como limites dados pelo “não”, pelo saber esperar e, principalmente, pela resistência à frustração são substituídos pela satisfação imediata de necessidades que vão se misturando, cada vez mais, aos desejos infindáveis daqueles que constituem uma juventude cada vez menos madura e responsável por si, principalmente.

Os excessos todos que constatamos não só no dia a dia, como no jeito de ser de cada um de muitos de nós – servem a que? A quem? Como contribuem para o amadurecimento e evolução das sociedades contemporâneas?

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Vontade

Vontade é determinação. 

Determinados a atingir um fim exercemos não só a vontade, como a liberdade, para nos determinar a esse fim.


O fim pode ser, por exemplo,  o forjar-se a si mesmo, para ir além do que o ambiente moldou. Para selecionar da bagagem(valores, cultura etc) recebida o que melhor se ajusta  àquele(a) em quem se quer transformar. 


Todo o processo de aprendizagem, incluindo o processo psicoterapêutico, precisa da determinação daquele que quer aprender e/ou evoluir como pessoa.



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terça-feira, 15 de agosto de 2023

Levantando a cabeça

Onde está a resposta sobre o que é melhor para  um grupo de pessoas, uma comunidade, uma nação? Enfim, "onde está o bem comum"?


Houve um tempo em que era possível debater ideias. Um tempo de diálogo. Quando, não se pretendia (con)vencer o outro do próprio ponto de vista. Mas, do qual partia-se para evoluir: como cidadão, como pessoa, como indivíduo. 


Os diálogos de Plantão são uma grande inspiração, entre tantas obras da Filosofia, a fim de voltarmos a essa prática tão importante para a vida pública e privada. Certamente, tal exercício ajudaria a levantarmos a cabeça - não só das telas!

Homens sapiens que somos, bípedes e de cabeça erguida somos inclinados cada vez mais ao próprio mundo, aos próprios desejos, com pouco ou quase nenhum interesse pelos diferentes pontos de vista de tantos outros humanos. A capacidade de ouvir, pensar, pesquisar, discutir e argumentar para que se chegue a um ponto a partir do qual se evolua está cada vez mais frágil. E, como tudo que é frágil, a tendencia é ter reações mais emocionais do que racionais, quando na defesa de alguma questão. Finca-se pé em alguns enunciados, com bandeiras empunhadas, que mais nos tiram a visão do que nos colocam ao alcance de perspectivas mais amplas, complexas de uma sociedade humana sempre em mudança. 

É de admirar que haja tanta dificultade de diálogo entre pessoas com pontos de vista diferentes!Se houver, apenas, confirmação de qualquer ponto de vista ter-se-á cada vez menos desenvolvimento da espécie humana. Menos evolução da comunicação entre nós.

É necessário abrir-se à escuta, ao conhecimento, do ponto de vista que, minimamente dialogue com assuntos que se queira discutir, para ampliar, para transformar aspectos de uma sociedade que vai muito além do isso ou aquilo

É preciso usar a cabeça!


sábado, 5 de agosto de 2023

Você mais sua solidão

Hei, você! Você mesmo, próprio, único! Com impressão digital e muitos números de registro que reforçam sua condição de indivíduo entre tantos. Você que não é como nenhum outro. Não é nem mesmo como o outro de quem se separou pela primeira vez na sua vida. Quantas outras mais não se separaria, não é mesmo?


Voltando ao momento anterior a essa primeira separação. Lá onde viveu sem consciência de si e de qualquer necessidade sua. Lá onde a literatura compara ao paraíso, nada lhe faltava. Não se frustrava, não esperava. Só existia. Apesar disso, já com sua idiossincrasia.


Vê só?  Não tem jeito!


Você, desde então, mesmo que não saiba quem é ou onde está - você é e estará em sua companhia até o fim da linha! É bom se acostumar com você, aprender a andar na própria companhia, a se compreender, amparar, porque uma vez do lado de cá – terá que se suportar, em sua “sozinhez”, “solitude” e/ou solidão. E isso é muito bom!


Como não?!


Lembra de quando se viu sobre os próprios pés, indo e vindo para onde queria? Apesar, de contar com a proteção de alguém, do seu incentivo era você quem usufruía da experiência de mais um passo na direção de sua independência! Mesmo que já não tenha essa lembrança, com certeza, sentiu muita alegria. Assim como, ao tirar as rodinhas da bicicleta, nadar sobre a água ou debaixo dela, com o folego dos seus pulmões e com o resultado do seu esforço em fazer seu corpo boiar. E, por aí vai!


Vai me dizer que não gostou de experimentar tantas outras pequenas, grandes conquistas. Não vou acreditar que não se regozijou, envaideceu-se, orgulhou-se de ser quem é. De ser você e estar na sua pele, usufruindo de suas conquistas


Ah...Também, teve vezes, acredito, que precisou engolir sua raiva, lidar com suas incompetências, suas dores no corpo e na alma. Como precisou de você nessas horas, não? Precisou muito do seu amparo, da sua resistência e aprendeu que se sai mais forte ao suportar esses ventos fortes, esses eventos que são, igualmente, vida. E foi aguentando você, com seus sentimentos caóticos, seus desejos ou necessidades frustradas que fez mais essa valiosa experiência de si.


Pode ter tido até uma ajuda externa. Ela é a mão que precisamos para nos fazer parar, frustrar e nos transmitir o que precisamos saber: você é capaz de se suportar, conter e se amparar. Somos todos – você e eu – um, com a própria solidão.


Lembre-se que é com ela que compartilha, vivencia aquilo que torna possível uma vida saudável consigo e com as outras pessoas.


Não, não me esqueci da importância delas, em tantos momentos da vida!


Vamos ao encontro delas, sabendo que com elas faremos trocas. Boas e ruins. Todas nos afetarão: bem ou mal. Entretanto, as pessoas não estarão mais como no começo de nossas vidas ou, se tivermos sorte, no final delas – só para nós, para satisfazer todas as necessidades físicas ou emocionais possíveis. (Seremos sempre seres faltantes, tanto no início como no fim.) Dessa maneira, quase como era no princípio, estar com o outro como antes- não é mais possível ou desejável.


 Você aprendeu um pouco sobre quem é, onde está e como quer usufruir de si e de sua vida. E ninguém, por mais que você deseje ou por mais que alguém deseje viverá por você as dores e as alegrias de ser você – a não ser você mais sua solidão. Você mesmo!


 


 



domingo, 12 de março de 2023

Dedicado à Mulher

Entre tantas notas, pensamentos, poemas dedicados à mulher, mesmo fazendo ressalvas quanto a necessidade dessa data (dia da mulher), gostaria de deixar alguns pontos de reflexão sobre a tetralogia da autora Elena Ferranti, recentemente lida.

Uma análise mais profunda, ainda não é possível, entretanto, muitos pontos me chamaram a atenção como: a constituição da identidade da mulher.

Quantas facetas compuseram, compõem as mulheres dessa obra! Como é rica e profunda a maneira como a autora descreve suas peronagens, tanto mulheres como homens, dentro do ponto de vista psicossocial de uma época de grandes mudanças que sobrevieram à sociedade conservadora dos anos 60. 

Mesmo que as personagens habitem a Nápoles daquele período é possível reconhecer, ainda hoje, na estrutura da nossa sociedade, inclusive, muitos elementos do machismo e do conservadorismo patriarcal.


No primeiro volume "A amiga genial", Elena Ferranti já nos coloca diante da questão da identidade, contando a história de duas amigas e os sentimentos, comportamentos e segredos que permeiam e são constitutivos da personalidade de cada uma delas. Especialmente, da que nos conta a história toda.


Sem deixar de considerar o contexto socieconômico, religioso, político e cultural, e por ele estar sempre presente, vamos encontrando os muitos tesouros tecidos por Elena sobre os que ficam e os que fogem ou vão em busca de si e de sua realização. (Aliás, o título de um dos volumes é " A história dos que ficam e dos que fogem.")


No que tange à realização das mulheres encontramos nessa obra as dificuldades e os malabarismos que são feitos pelas personagens femininas, não diferentemente de nós mulheres que queremos viver o amor, a maternidade e a carreira profissional.

Como fica evidente a enorme diferença entre o apoio que os homens precisam para sua realização - que, geralmente contam, exclusivamente, com suas parceiras para tal -  e a rede de apoio necessária para que a mulher possa buscar as mesmas coisas!

Apesar dessa rede, quando é possível tê-la, muitas mulheres lutam com sentimentos como a culpa por não serem uma boa mãe, esposa, dona de casa... O conflito entre o direito de ser e o dever de ser o que delas é esperado (inclusive, por elas mesmas) consome muito da energia que poderia ser investida e/ou poupada para o exercício de suas atividades, bem como para que tivessem menos oscilações de humor, de comportamento e estivessem menos cansadas física e emocionalmente para cuidarem melhor de si e dos que lhe são caros.


É uma obra que marca pelo estilo literário em si, pela sua poesia e complexidade psicológica, principalmente, das personagens centrais e da amizade entre elas. E, ainda, pelo mistério que envolve a identidade da autora!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Sua majestade o Ego: um eu-grandioso-exibicionista

Em 1914 Freud usou o termo “Sua majestade o bebê”, para descrever o lugar dado ao bebe na estrutura familiar. É em torno dele que tudo passa a girar. É a partir dele que se organiza a agenda da família. Além desse poder, “sua majestade o bebê” é revestida das projeções dos pais que esperam que ele seja e realize aquilo que idealizaram para si e sobre seu lugar no mundo. Freud fala, nesse volume da sua obra, sobre o narcisismo e a reprodução do narcisismo dos próprios pais sobre o(s) filho(s).

 

Na base do funcionamento psíquico infantil encontramos traços de megalomania, ou seja, de onipotência narcísica que é própria da constituição do ego. O ego infantil é revestido de um superinvestimento libidinal e se contrapõe ao, ainda, precário sentimento de identidade. Tudo está em desenvolvimento.

 

O narcisismo, enquanto superinvestimento libidinal do ego, para além da infância caracteriza um distúrbio no desenvolvimento da relação ego-Si-mesmo. Portanto, refere-se à questão de identidade. Nesse distúrbio encontramos “Sua majestade o Ego”, como compensação de uma identidade frágil que não se estruturou a partir de uma relação equilibrada entre ego e Self (Si-mesmo).

Fica evidente nesse desiquilíbrio a atitude defensiva contra prejuízos à tão frágil identidade . A expressão eu-grandioso-exibicionista traduz bem a identidade sentida como insuficiente. Através dele e de sua exibição a pessoa atrai para si olhares, reflexos da admiração de outros que a ela confirmam sua imagem idealizada.

Os aspectos dessa imagem idealizada variam de acordo com a personalidade de cada um. A beleza, a inteligência, o temperamento, a "santidade", a honestidade, a perfeição, o poder podem ser alguns dos aspectos em torno dos quais gira esse eu-grandioso-exibicionista.

A atitude da pessoa para consigo mesma depende muito do centro, através do qual gravita:

- Se acreditar que é a sua imagem idealizada tenderá a achar que é mesmo um espírito superior, um ser humano excepcional, cujos erros são como que divinos.

- Se sua autoimagem é baseada na comparação com a imagem idealizada tenderá a ser demasiadamente autocrítica, menosprezando a si mesma. Assim, frases como: deveria ter sentido, pensado, feito melhor são próprias dessa atitude e revelam que, no íntimo a pessoa está convencida da sua perfeição; portanto, se tivesse sido mais exigente consigo mesma ou mais isso ou mais aquilo, então...

Tanto numa situação, como na outra o eu verdadeiro está escondido da própria pessoa. O desiquilíbrio na relação ego-Si mesmo leva a pessoa a construir, inconscientemente, uma imagem idealizada de si estática, rígida. No equilíbrio dessa relação a identidade é uma construção, uma vez que o Si-mesmo é um padrão dinâmico, inacabável – um processo contínuo de individuação.

Nesse processo de individuação a busca é pela complementação da própria personalidade e não pela perfeição.

Ao contrário dos ideais autênticos a imagem idealizada, sendo estática é, certamente, um obstáculo ao amadurecimento - ou por negação das próprias deficiências ou por condenação delas.

Já os ideais autênticos, por serem dinâmicos, fazem com que queiramos nos aproximar deles. São indispensáveis, como impulso, para o nosso amadurecimento e desenvolvimento.

A função mais elementar da imagem idealizada é substituir a autoconfiança e o amor-próprio verdadeiros, dando ao ego uma sensação (artificial) de significância e poder. A onipotência, por isso, passa a ser uma crença infalível da imagem idealizada.

Surge com ela o impulso para se distinguir, para de algum modo sentir-se superior, de triunfar sobre os outros. Como o sentimento de vulnerabilidade é muito grande, traz consigo o medo da pessoa ser tratada com desconsideração e humilhação; assim, a necessidade de superioridade dá à pessoa um certo prazer sádico sobre os outros. 

 

Da mesma maneira que a majestade do bebê tiraniza os pais e as pessoas à sua volta a construção defensiva que coloca o ego como majestoso, como um eu-grandioso traz sérios prejuízos ao desenvolvimento real da personalidade, impedindo que a pessoa aprenda a lição com seus erros ou inadequações - uma vez que não os enxerga. Está sob a tirania desse eu grandioso a quem não interessa amadurecer. Aliás, a ideia de amadurecimento quando aceita tende a ser compreendia como obtenção de uma imagem idealizada ainda mais perfeita.

Deixar de estar sob a tirania do próprio ego, renunciar à imagem idealizada desse eu-grandioso-exibicionista só será possível quando a pessoa conseguir reduzir as necessidades que lhe deram origem. Geralmente, isso acontece quando toma consciência da base que formou a imagem idealizada e da função de suas defesas. E, finalmente, do sofrimento que inevitavelmente provocam.