Aqueles que não tiveram a experiência do amor incondicional têm dentro de si um vazio que não é preenchido nunca.
Vazio que aumenta com algumas vivencias; diminui com outras, mas, não desaparece...
Ouvir o depoimento acima, dado quase com essas mesmas palavras, fez com que nascesse mais uma reflexão...
O que é esse amor incondicional?
“O amor incondicional corresponde a uma das mais profundas aspirações, não só da criança, mas de qualquer ente humano”. (Erich Fromm)
Geralmente, ele é atribuído à figura materna que seria capaz de amar, aceitar seus filhos sem que precisassem atender a nenhuma exigência ou condição. A mãe ama o filho, simplesmente, porque é seu filho. Afirma sua vida, através dos cuidados que lhe garantem a sobrevivência e desenvolvimento. Transmite ao filho, basicamente, o quanto é bom viver, ser um menino ou uma menina e o quanto é bom estar aqui.Contudo, o que se diz sobre o amor materno e/ou incondicional, não corresponde ao que muitos filhos relatam ao se queixarem de um vazio interior, de uma desconfiança e medo em relação à vida em si e à capacidade de se realizarem. Muitos trazem para si o motivo pelo qual não foram amados por suas mães, acreditando haver algo neles que justifique essa falta. Por conta disso, passam a vida buscando sentir aprovação, aceitação e a estima por parte de suas mães e de pessoas para quem transferem a importância dada à figura materna e ao amor incondicional.
... “O amor não é primacialmente, uma relação para com uma pessoa específica; é uma atitude, uma orientação de caráter, que determina a relação de alguém para com o mundo como um todo, e não para um “objeto” de amor... Contudo, a maioria crê que o amor é constituído pelo objeto e não pela faculdade”. (idem)
Partindo dessa premissa, muitas mulheres falharão com seus filhos – independentemente de quem sejam eles.
Narcisistas, dominadoras ou possessivas – cada uma dessas mães se relaciona com o mundo e com as pessoas a sua volta – filhos ou não – de acordo com sua orientação de caráter. Falharão, principalmente, quando tiverem que se separar desses filhos. Separação essa necessária para o crescimento e desenvolvimento deles.Portanto, amar e amar incondicionalmente não são tarefa fácil.
Amar sem pedir nada para si, visando apenas à felicidade daquele a quem se ama, exige de quem ama uma “existência firmemente alicerçada em si mesma”, como argumenta Erick Fromm, no seu livro "A arte de amar". Para ele, a pessoa amadurecida ama tanto com a consciência materna quanto com a consciência paterna.
“... Nesse desenvolvimento do afeto centralizado na mãe para o afeto centralizado no pai e em sua síntese ulterior reside a base da saúde mental e da complementação da maturidade.”
Estar firmemente alicerçado em si mesmo, amadurecido e em condições de ter o amor como atitude, ou seja, ser capaz de amar – não é uma realidade comum entre nós, homens e mulheres, principalmente, na sociedade contemporânea.
Sendo assim, como ficam os filhos desses homens e mulheres? O que é possível fazer, apesar dos pais que esses filhos tiveram ou terão? A eles restará um vazio que nunca se preenche?
Uma das qualidades do amor incondicional é a passividade. Isso significa que para se conseguir esse amor nada pode ser feito! Ou bem se é amado, ou não se é amado!Portanto, sentir-se amada passa a ser uma questão vital para a criança pequena.
Mais velha, é capaz de fazer alguma coisa pelos pais.E ela o faz. Geralmente, doa algo de si para aquele (s) de quem recebe amor. Sai da condição passiva do amor incondicional para a ação.
Segundo Erich Fromm, o amor infantil segue o princípio: “Amo porque sou amado”. O amor amadurecido segue o princípio: “Sou amado porque amo.”
A criança,durante seu desenvolvimento, deve ser capaz de superar o egocentrismo, compreendendo que o outro não é mais um meio de satisfação de suas próprias necessidades. Deve ser capaz de sentir mais prazer em dar do que em receber, em amar do que em ser amada; afinal, o egocentrismo isola a pessoa em si mesma, impede- a de sentir sua potência, sua capacidade de tornar-se independente e responsável pela própria vida.
As falhas nesse processo por deficiências dos pais podem justificar as dificuldades que encontramos nos adultos com sentimentos de desamparo, que buscam ser cuidados e protegidos. Entretanto, considerar a idéia de potência, ou seja, a força do impulso de autorrealização presente em todos nós, pode ser o início da resolução desse problema que aflige tantos adultos “presos no mundo da mãe”.
Ir além dos pais pessoais, ir “apesar dos pais pessoais” e das experiências com eles , ser para si a mãe que ama, cuida, protege e afirma a própria existência; o pai que disciplina, que incentiva a independência, a responsabilidade pela própria vida, certamente, são ações que ajudam às pessoas a preencherem seus vazios interiores e a aumentar a esperança na capacidade do ser humano de amar e ser amado e, assim melhorar não só a qualidade da vida pessoal como a da coletividade.
Muito apropriado seu texto, numa época em que quem ama exige reciprocidade, como se amor fosse moeda de troca. Quem ama, ama e ponto final.
ResponderExcluirObrigada Eurico, pelo comentário,pelo incentivo.
ResponderExcluirBeijos